OS VÂNDALOS - SERIAM ELES MARCIANOS?


Podemos não gostar e discordar, mas convêm conhece-los.

Nos últimos dias essa foi uma das palavras mais pronunciadas nos noticiários, pelas bocas de algumas autoridades e entre manifestantes dito “pacíficos”. Mas quem é essa gente que tanto pavor e repulsa tem provocado? Do jeito que são mencionados parecem que nunca foram vistos e que surgiram surpreendendo a todos nessas manifestações. Pareciam desembarcados subitamente de Marte com um único objetivo de melar as manifestações pacíficas da maioria. Vândalos, minoria, bagunceiros, bandidos... sim, tudo isso e mais um pouco, mas infelizmente parte da nossa sociedade e mais presente em nossas ruas que a maioria dos manifestantes.

Em primeiro lugar apareceram e em algumas vezes até comandaram pelo menos parte dos protestos porque essas manifestações são o que o que se classifica hoje como “difusas”. Ou seja, não tem um único e definido objetivo (pode até começar com um, mas imediatamente surgem outros e outros), nem lideranças e comandos claros (esqueçam o tal de Passe Livre que só é liderança porque a mídia e as autoridades precisam de uma), muito menos partidos e organizações afins, que podem até aparecer depois para tirar uma lasquinha, mas não comandam nem lideram nada. Então, com isso qualquer grupo se sente autorizado a participar e fazer o que lhes passa pela cabeça. Noves fora, é claro, os marginais (no sentido aqui de marginalizados da sociedade).

“Quebrar, quebrar é melhor pra se manifestar”. Era o grito de guerra da turba, que reagia aos pacifistas com “sem moralismo”. Um dos grupos que liderava o quebra-quebra eram os Black Blocks (sim, senhores, eles também tem nome e organização). Os Black Blocks são a tropa de choque anarquista do movimento, que irritados com a “face classe média” que o protesto começou a tomar, resolveram partir para a invasão, o (ops) vandalismo e a depredação. Animados, junto com eles vieram outros membros da nossa sociedade: os punks, os nóias (molestados em seus guetos no centro, que vislumbraram uma oportunidade de ganho nos saques a lojas), os assaltantes (que encontraram um jeito mais fácil de levar algum, depois de afanar celulares e carteiras dos “outros” manifestantes), skinheads (aqueles caras que costumam espancar gays e nordestinos), pichadores de prédios públicos e privados, históricos ou não... e outros tipos. Todos eles existem e fazem parte do dia-a-dia da nossa querida cidade. Pq cargas d’água deixariam de marcar presença num movimento que lhes permitiria (perdão permite) a livre manifestação dos seus – digamos assim – desejos?

São caras sintonizados coma violência diária das nossas grandes cidades. O sujeito é violentado quando usa um transporte aviltante, superlotado, sem nenhum conforto, que leva horas e horas para chegar a algum lugar. O sujeito sofre violência quando precisa dos equipamentos de saúde do Estado e é mal atendido e maltratado. A pessoa sofre violência pela sua orientação sexual, cor da pele ou local de nascimento. A violência está presente no trânsito, diariamente, por mais protegido que você pense que está no interior do seu carrinho. As pessoas são assaltadas nos semáforos, nos restaurantes (mesmo naqueles vagabundos, antes que venham...), em casa... A violência está presente nos estádios, nos grandes eventos... Quem não tem onde morar é expulso de seus barracos a golpes de cassetete e bombas de gás. Os exemplos são infinitos. Na grande cidade ninguém está imune a violência, ninguém 

Então pq da surpresa quando a violência? Não estou querendo dizer que são os violentados, oprimidos ou seja lá como se queira chamar os autores da violência nas manifestações, mas elas permitem que esses grupos encontrem um campo, um palco, para fazerem o que fazem, no dia-a-dia, sem tanta força, sem tanto espaço. É uma questão de oportunidade. No mais é preciso entender que são, seus motivos, como combate-los e como integra-los e não apenas aos protestos. É preciso integra-los a sociedade. E isso só será possível quando a violência, em todos os níveis for efetivamente combatida.

Comentários

  1. É o que eu tenho dito e repetido: entender esses movimentos que estão nas ruas a gente entender (só não entende quem não quer). O que a gente não consegue entender é como nossas autoridades vão encontrar respostas e soluções céleres para essa enxurrada de questões emergentes - inclusive a segurança pública, como você bem relatou. Vamos que vamos!

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  2. Não acho que vai ser fácil. Tanto afogadilho por ter efeito contrario, mas enfim a esperança é a última. Aguardemos. abs

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