PARA ONDE VÃO OS NAVIOS CUJA VIDA ÚTIL ACABOU? VÃO POLUIR A ÍNDIA, O PAQUISTÃO E BANGLADESH.

Um navio industrial dura em média 20 a 25 anos. A frota mundial é estimada em 90 mil. Quando a manutenção dessas embarcações, por conta da ferrugem e acumulo de resíduos de torna inviáveis, as empresas aposentam esses navios, gigantes de até 350 metros de comprimento, 50 mil toneladas de peso e manda para a reciclagem. Parece bom? Mas não é. 95% da massa do navio pode ser reaproveitada. Um negócio de 400 bilhões de dólares anuais. 

O problema é que nesse processo 100 mil pessoas, cerca de 10 mil deles menores de 18 anos, trabalham em condições desumanas, enfrentando temperaturas de até 43 graus, expostas a substâncias tóxicas, sem qualquer proteção, recebendo um salário de 3 dólares por dia. Só na costa asiática 800 pessoas morreram nos últimos 15 anos. Nenhuma dessas empresas presta qualquer satisfação aos seus governos, que fazem vista grossa também para as milhares e milhares de toneladas de poluentes que são despejados nas praias sem nenhum tratamento. 

A coisa funciona assim: quando uma empresa decide descartar um dos seus navios faz uma cotação entre os portos de reciclagem. Só que empresas responsáveis socialmente não conseguem competir com as que estão instaladas nesses três países. Os operários vem de áreas pobres do interior, a centenas de quilômetros das praias desses países. O contrato é temporário. Quando faltam navios passam a viver da mendicância nas vilas vizinhas. Tudo é feito manualmente, sem luvas, máscaras ou capacetes, enfrentando quedas, de até 50 metros de altura, explosões e incêndios no interior dos tanques de combustível, acidentes comuns nos desmanches. O contato com substâncias cancerígenas (chumbo, cobre, mercúrio, ácido sulfúrico, amianto e combustíveis) é diário. As crianças trabalham mais à noite quando a fiscalização precária e corrupta é ainda menos rigorosa. 

Um garoto, de 16 anos, morto recentemente com a queda de uma placa de metal de 15 metros de altura, que sustentava usando apenas as mãos, enquanto um funcionário mais experiente a cortava com um maçarico, teve a família indenizada com 244 dólares. O dono do estaleiro, Abdullah Al Mamun é filho de Abul Qasem, membro do parlamento de Bangladesch.

Vivemos num mundo difícil.

A denúncia está numa excelente reportagem de Tiago Cordeiro, na revista Galileu, do mês de julho, com fotos fantásticas de Rahat Khan e Alzbeta Jungrova Vale ler na íntegra.


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