A TECNOLOGIA DIGITAL PODE ABOLIR A MEDIAÇÃO DOS PARTIDOS E CRIAR UMA DEMOCRACIA DIRETA?

Tem gente que não apenas acredita, como aposta nisso como um caminho possível e desejável para uma democracia mais efetiva e realmente representativa. Silvio Meira, dono de um currículo respeitável na área de tecnologia digital, é um deles. 

Fundador e cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R.), presidente do conselho administrativo do Porto Digital, professor de engenharia de software do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco e consultor de empresas privadas e públicas desenvolvendo diagnósticos para entender, por meio da tecnologia, as mudanças e as recentes  manifestações de rua em todo o Brasil, Silvio sente-se à vontade para emitir opiniões muito firmes, algumas bem conflitantes com as análises que vem sendo feitas sobre o poder das redes sociais, os protestos de rua, o nível de politização do povo brasileiro e uma "nova" democracia que pode vir por aí, baseada numa representatividade vinda através da Web.

Em entrevista recente a revista Planeta, Silvio atribui o "sucesso" das manifestações de rua ao "colapso da democracia representativa, que deixou de ser representativa" e não apenas no Brasil. "O sistema perdeu a conexão com as pessoas. E no Brasil, com a oposição reduzida a mínima expressão ou cooptada, o descontentamento vazou, ainda que de forma desarticulada, pelas redes sociais", embora ache que a articulação por meio delas ainda não esteja funcionando.

Ao contrário do que muita gente propala por aí, Silvio acredita que o poder das redes sociais é muito menor e que o sucesso das manifestações, até agora é parcial. Cita como prova as medidas adotadas pelos governantes e políticos, como respostas ao clamor das ruas que, em sua visão, não atendem - nem mesmo minimamente - às reivindicações dos protestos recentes.

Silvio também não acha que o povo brasileiro esteja mais politizado, mas que apenas perdeu a paciência. E vê nisso o perigo dos protestos ficarem cada vez mais violentos, já que sem propostas de construção, terminem gerando apenas confrontos com as forças de segurança.

Apesar disso ele acredita na possibilidade de no futuro criarmos uma democracia, melhor, sem partidos. E é bastante incisivo. "Em 1860 a mediação era necessária", referido-se ao inglês John Stuart Mill, pensador liberal de esquerda do século XIX, "pela simples razão de que era inviável reunir todos pelo correio para discutir organizamente. O que estamos vendo agora é que podemos reunir todas as pessoas... Dizem que não podemos ter (uma democracia direta) porque temos 75% de analfabetismo funcional, e a minoria de 25% vai dominar a outra parte. Se isso for mesmo verdade, ja é melhor do que 0,0001% representando todo mundo, como é hoje".

"Eu tenho certeza de que não vamos mais precisar de 518 deputados. A gente não vai precisar ouvir o 'o nobre representante do povo de Itaperoa', vai poder escutar o povo de Itaperoá. Se os partidos nao atendem a demanda por representação por que ter partidos?"

"Acho que a gente tem que olhar pro futuro e ver o que pode influir nesse sistema. Se dessa quantidade de manifestações só tirarmos de licão de que o Brasil as vezes explode, será muito triste", conclui.

A Planeta, de agosto, traz, além da entrevista com Silvio Meira, uma reportagem de capa sobre a Rebeldia Digital, com a opinião de sociólogos e pesquisadores sobre a influencia das redes sociais na nova política. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

DE QUEM É ESSE JEGUE, ESSE JUMENTO NOSSO IRMÃO?

UM SONHO DE XOXOTA EM BARRA GRANDE

ABSTENÇÃO: PROTESTO OU DESINTERESSE?