HADDAD VAI DE ÔNIBUS, ALCKMIN DE TREM. E VOCÊ MEU BEM?

Entupiu. Saturou. Não cabe mais.

Se todos os carros de São Paulo forem as ruas ao mesmo tempo, circulando a 40 km por hora, a cidade precisaria de mais que o dobro dos 17 mil quilômetros de ruas existentes. Se os seus 5,4 milhões de carros fossem estacionados em fila indiana, ela alcançaria 27 mil quilômetros - três vezes a extensão de todo o litoral brasileiro.

Entupiu. Todo mundo concorda. Mas e as soluções?

Mas, enquanto isso continuam os estímulos para a compra de carros, com redução de IPI e prestações, a juros zero, a perder de vista.

Você vai deixar o carro em casa?

Tudo certo em priorizar os ônibus, mas se eles não tiverem um mínimo de qualidade você vai deixar o seu carro em casa?

15 propostas para acabar com o entupimento

Os técnicos falam em pelo menos 15 propostas para fazerem as cidades andar: faixas de ônibus; corredores exclusivos e segregados para ônibus; pedágio urbano (aprovado por apenas 1% dos paulistanos); estímulo a carona; cidades compactas; mais metrô; integração entre os vários modelos de transporte; estimular menos deslocamentos (adensando oportunidades); ampliar áreas de rodízio; mais ciclovias e ciclofaixas; limitação de número de garagens (para residências e comércio); menos vagas nas ruas; mais tecnologia transmitindo em tempo real as condições do trânsito; hidrovias; estimular uma nova mentalidade nos motoristas para que abandonem os carros.

Falta verba e vontade política

Dependentes do Governo Federal, as cidades, todas as grandes e médias congestionadas, não conseguem aumentar o volume dos investimentos. São Paulo, por exemplo, precisaria de 5o bilhões de reais para elevar de 74 km para 200 km a sua malha metroviária. De onde viria esse dinheiro?

No Brasil vivemos em contradições: as cidades não tem dinheiro e dependem do Governo Federal, que por sua vez não libera, ou não tem, os recursos necessários para atender a todos. Além disso, ao mesmo tempo em que discursa a favor de uma nova mobilidade urbana, incentiva, claramente, o transporte individual, ao patrocinar a isenção de impostos para facilitar a compra de carros. Estados e municípios querem resolver o problema, mas a falta de dinheiro e de vontade política, emperra a maioria das iniciativas. Até as decantadas obras para a Copa de 2014 privilegiam o transporte individual.

Calçadas. Importantes, mas esquecidas.

As soluções para que as pessoas deixem os seus carros em casa passa também por um via sempre esquecida por todas as administrações: as calçadas, que um jornal de São Paulo classificou como a pior inimiga dos "sem-motor". O péssimo estado das calçadas já virou inclusive problema de saúde pública: um estudo do Hospital das Clínicas de São Paulo aponta que no ano passado, uma em cada cinco vítimas de quedas, foram vítimas das calçadas. E, ao contrário do que se poderia pensar, a maior parte dos acidentados calçada tênis e estavam na faixa dos 36 a 50 anos.

Quem pode deixa o carro em casa

Ao contrário do que se poderia pensar, também, quem tem mais dinheiro tende a deixar mais o carro em casa. Esse pessoal procura concentrar os serviços e - se possível até mesmo o trabalho - nas proximidades das suas residências ou no máximo dentro do próprio bairro.

Poluição dos veículos mata mais que acidentes de trânsito

Enquanto as grandes e definitivas soluções não chegam, cada um vai se virando como pode para escapar do trânsito, dos congestionamentos e da poluição provocada pelos veículos que já são uma das principais causas de doenças e até mesmo de mortes.

No Estado de São Paulo 17 mil mortes foram provocadas pela poluição, só em 2011, segundo dados de uma ONG e de pesquisadores da USP. É o dobro das mortes provocadas por acidentes de trânsito. E as previsões não são nada otimistas: até 2050 a poluição do ar será a principal causa das mortes prematuras por câncer de pulmão.

O espaço urbano ideal

Mas enquanto as soluções não chegam, não custa sonhar - e lutar - por uma cidade dos sonhos:
1. Sem congestionamentos, planejada para oferecer as melhores oportunidades de trabalho, lazer e cultura com várias opções de transporte.
2. Com compartilhamento de bicicletas e automóveis, que completariam o transporte público eficiente.
3. Diversidade de transportes com uma rede integrada de ônibus, metrô, monotrilho, trem, barcos de passageiros, cada um atendendo a um tipo de necessidade.
4. Calçadas seguras, acessíveis, conservadas pelo poder público e não entregues ao critério privado de cada dono de imóvel
5. Estacionamentos públicos, preferencialmente subterrâneos, integrados as estações de transporte que acomodem os carros de quem mora longe. Sem estacionamentos nas ruas, mais espaço para o fluxo de veículos, mais calçadas, ciclovias e ciclofaixas.
6. Restrições aos carros. Não é o inimigo, mas não pode ser a opção da maioria. O ideal é combinar restrições com mais oferta de transporte. Como restringir? A ver.

Enquanto isso... Haddad de ônibus, Alckmin de metrô. E você?

Enquanto isso, meu caro, é se divertir com o faz de conta das nossas autoridades: Haddad faz de conta que vai trabalhar de ônibus, Alckmin diz que vai andar de metrô e você, meu bem? Vá se virando como puder.

(Dados obtidos do Caderno Especial sobre Mobilidade Urbana do jornal Estado de São Paulo, de 12 outubro/2013).



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