MAIORIA NO PAÍS PREFERE LIVRE INICIATIVA MAS SONHA COM EMPREGO PÚBLICO PARA O FILHO

Tem uma tal de pesquisa chamada Latinobarômetro, que é uma das mais tradicionais pesquisas sobre política e economia na América Latina. A parte brasileira foi feita pelo Ibope, no último mês de junho, e revela algumas curiosidade sobre o caráter nacional. Lendo me convenço cada vez mais que não me ufano mesmo em ser brasileiro. 

Sobre a relação entre Estado e economia, o brasileiro médio prefere as duas. Se indagados sobre o que prefeririam para si - um cargo público, um emprego no setor privado ou abrir o próprio negócio, lá está um belo contingente de empreendedores e amantes da iniciativa privada: nada menos que 37% gostariam de empreender e 18% disseram que o ideal é o emprego privado. Só uma minoria, 32% gostariam mais de um empreguinho público.

Mas quando a pergunta é sobre o que gostariam mais para os seus filhos, pronto, a coisa muda de figura e nada menos que 42% disseram que o que mais desejavam era a segurança de um emprego fixo no setor público. E notem: não houve variações por escolaridade. Analfa ou letrado, todos preferem a segurança das têtas da viúva.

E para os políticos que saírem por aí, nas próximas eleições, discursando contra ou a favor das privatizações, todo cuidado é pouco. Dois em cada três entrevistados concordam - pelo menos em parte - que a economia de mercado é o único sistema através do qual "o Brasil pode chegar a ser um país desenvolvido". Só 18% discordam e 15% ficaram sem saber (hum). Mas, porém, todavia, contudo, quando perguntados se as privatizações das empresas estatais foram benéficas para o País, a maioria deu pra trás: 42% discordaram - mesmo que em parte - da afirmação. 44% concordaram totalmente ou parcialmente. Vai saber os motivos. Talvez a insatisfação com os tais serviços privados, que em geral são mesmo uma droga.

De qualquer sorte, talvez aí a explicação, só 37% estão satisfeitos  - ou muito satisfeitos com os serviços de água, luz e telefonia que passaram para a iniciativa privada (provavelmente não se lembram como eram piores quando estatais, mas não importa). 41% estão poucos satisfeitos e 21% nada satisfeitos. E a insatisfação, é óbvio, é maior nas grandes cidades e suas periferias.

Quando o tema é corrupção 55% acreditam que a maioria (41%) ou praticamente todos (14%) dos funcionários dos governos municipais são corruptos. E vai para 57% quando a pergunta se refere ao governo federal. (e mesmo assim querem que os filhos se metam nesse cipoal, vai entender). De qualquer forma a percepção da corrupção é muito maior que a experiência. Só 5% dizem que já presenciaram um ato de corrupção, outros 11% nunca viram nada do tipo, mas conhecem alguém que já viu. Ou seja quase 80% jamais viram algo do tipo. Talvez eliminem alguns atos conhecidos, como molhar a mão do guarda, dar uma gorjeta para furar fila, fazer o papel andar mais rápido numa repartição ou pagar um despachante para escapar dos exames no Detran. Vai saber.

Já na segurança não escapa ninguém. 39% já foram vítimas ou tiveram parentes assaltados ou agredidos no último ano. E nada menos que 85% se preocupam sempre - ou quase sempre - com a possibilidade de ser vítimas de um delito violento.

(Dados da pesquisa extraídos de artigo publicado por José Roberto de Toledo no jornal O Estado de São Paulo, em 18 de novembro)

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