BIOGRAFIAS, DE NOVO, MAS INEVITÁVEL. O ASSUNTO NÃO ESTÁ MORTO.
Como
uma onda, parece que a questão das biografias arrefeceu, mas não é verdade.
Além disso, passada a fase de maior indignação, começo a ver – ainda que
tímidas – algumas manifestações de desagravo aos cantores e compositores,
nomeadamente a Caetano Veloso, Gil e Chico. Coitadinhos, fizeram tanto pela
música popular brasileira. Também acho, fizeram muito e ganharam também um bom
trocado. Isso não lhes dá, no entanto, primazia para se transformarem em
censores e elementos sem responsabilidade social.
Vou
me apropriar aqui de dois biógrafos, famosos, que por sinal não tem medo de
serem biografados, um deles de esquerda e outros mais chegado ao show business,
duas áreas em que os nossos artistas censores circulam muito à vontade, com
exceção óbvia de Roberto Carlos.
Para
Randall Sullivan, editor e colaborador da revista Rolling Stones, autor de Intocável,
biografia de Michael Jackson, a censura prévia as biografias “é uma catástrofe.
Não sairiam biografias reais, mas somente propaganda, obras de relações
públicas”. E continua: “é perigoso
defender isso. Não se trata apenas de celebridades, mas também de
personalidades públicas, líderes políticos. Eles vão dizer em suas biografias
apenas o que quiserem. Sei que no Brasil vocês não tem nenhum Hitler, mas
certamente têm políticos e líderes históricos que adorariam dizer somente o que
quisessem em suas biografias. Para mim, se uma pessoa usufrui dos benefícios de
ser uma figura pública, também tem de pagar o preço por isso. Ninguém pode ter
as duas coisas ao mesmo tempo. Se voc6e se expõe aos holofotes, sabe que expõe
também sua vida. Se não quer isso, não se exponha aos holofotes”.
Para
Jon Lee Anderson, biógrafo de Che Guevara, a “censura a biografias aproxima o
Brasil das ditaduras”. Os artistas brasileiros que “querem o privilégio e os
lucros (sim, os lucros , acrescento eu) de ser uma celebridade sem a
responsabilidade de ser esse personagem público... O governo proibir que se
escreva sobre eles, para mim, é um mau caminho, porque isso pode se estender
facilmente a qualquer figura pública. Logo será um político, um chefe de
polícia, um banqueiro. E sabemos que em países como o Brasil há gente que se
esconde atrás dos seus títulos que são corruptos, que são assassinos. Que
lugares restringem o tipo de livros que se pode ler? Cuba, China, Mianmar,
Rússia e Irã. Se alguém ocupa um espaço na vida pública, é direito do público
saber o máximo sobre ele”.
Simples
assim pessoal do Procure Saber.
Convém
não deixar esse assunto morrer. Infelizmente essa turma está mexendo num
vespeiro, num assunto que transcende as possíveis verdades inconvenientes de
suas vidas particulares. A liberdade é mais importante que as possíveis estripulias
sexuais de uns e outros ou a perna mecânica e sacos de dinheiro de uns e
outros. O que está em jogo é muito mais importante que os casos das vidinhas
particulares desses artistas, que com a sua miopia lançam lama sobre seus
passados e querem nos emparelhar com o que existe de pior no mundo.
(trechos extraídos de entrevistas dadas, em datas diferentes, pelos biógrafos ao jornal O Estado de São Paulo)
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