COMO SE COMPORTAR NUMA ELEIÇÃO EM DOIS TURNOS
Existe uma técnica ou uma estratégia, como queiram, para eleições em dois turnos, interessante se aplicada no caso das eleições presidenciais brasileiras.
São duas as hipóteses,
considerando-se a existência de três partidos e, numa delas, um franco
favorito. Na outra, três candidatos, nenhum favorito.
Na primeira os dois partidos que
competem para ir ao segundo turno devem ter paciência e muito controle para
atirar exclusivamente no favorito. Tomando cuidados com o seu competidor mais
próximo, com ambos atacando exclusivamente o favorito é possível atrair pelo
menos uma boa parte do eleitorado do terceiro colocado, para aquele que
conseguiu ir ao segundo turno.
Na outra hipótese, com três
igualmente competitivos, a técnica sugere que cada um deve eleger apenas aquele
que análises e pesquisas mostram com mais chances de ir para o segundo turno e,
obviamente, tratar o outro com cuidado, contando assim com a possibilidade de
vir a ser apoiado pelo eleitorado daquele que não conseguiu chegar lá, o que é muito
provável, como na hipótese anterior.
Essa teoria, ou técnica, conhecida
como “ballotage” (*) se utilizada para retratar as eleições presidenciais
brasileiras revela um quadro interessante com Marina, a vice de Eduardo Campos,
atuando fora da curva estabelecida pela técnica.
Dilma, que mantidos os números
atuais, será eleita já no primeiro turno, faz a escolha certa ao mirar em Aécio
Neves, por enquanto, o que detém números que indicam uma possibilidade de ida a
um hipotético segundo turno. E tende a suavizar, mas apenas suavizar, as
críticas a Eduardo, cujo eleitorado, acredita-se, seria capaz de migrar em boa
parte para sua candidatura.
Aécio usa muito mais claramente o
primeiro modelo. Parte do entendimento, óbvio nesse momento, de que Dilma é a
favorita e focaliza nela e em seu governo as críticas, ao mesmo tempo em que
tenta manter relações cordiais com Eduardo Campos e o seu eleitorado.
A campanha de Eduardo, que no início
parecia ir também pelos caminhos sugeridos pela primeira hipótese da técnica,
ao que tudo indica influenciada por Marina, ataca Dilma, com mais ênfase, mas
não deixa de dar suas estocadas em Aécio, deixando claras as diferenças entre
as duas candidaturas. A opção de deixar explícitas as diferenças é correta, mas
partir para o ataque pode deixar os eleitores de Aécio resistentes a um
eventual apoio a Eduardo, numa hipótese de um segundo turno, que hoje não está,
de resto configurada, mas que uma candidatura, que acredita ser competitiva,
não pode considerar como impossível de acontecer. Ao que tudo indica contam
ainda com a hipótese – essa praticamente impossível – considerando-se o cenário
atual, de que Dilma não indo para o segundo turno, ficariam com boa parte com
os seus votos, já que são de alguma forma, na origem, da mesma família lulista,
indo para a sua seara os votos petista visceralmente anti-PSDB. E ainda que, no
caso de Aécio não conseguir ir para o segundo turno, contariam, de qualquer
forma, com esses votos, por ser o eleitorado de Aécio anti-PT. Tudo tem lógica,
ainda que contando com hipóteses improváveis e demasiadamente arriscadas.
Ainda sobre a atuação de Marina,
sempre ávida em demarcar seu ideário, vale ilustrar com as posicionamento difícil
da campanha de Eduardo com relação ao poderoso setor do agronegócio, cortejado
com certo sucesso por Aécio, para o qual Dilma, espertamente, já voltou os seus
olhos e ações, concedendo créditos e benesses. Enquanto isso Eduardo tenta se
equilibrar entre suas ideias que podem atrair esse segmento e a conhecida
ojeriza de Marina ao setor.
É acompanhar o desenrolar da
campanha para ver como se movimentarão os três e se manterão as mesmas
estratégias.
(*) ballotage – é uma expressão
francesa,, utilizada para segundo turno, que terminou por denominar a técnica.
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