DE QUEM É ESSE JEGUE, ESSE JUMENTO NOSSO IRMÃO?
Milhares de jegues estão sendo abandonados Brasil afora,
basicamente no Nordeste, substituídos pela motos. Companheiro de longos e
longos anos, puxador de carroça, arado, transportando pessoas, participando da
vida do nordestino, protagonista de músicas famosas, vem sendo simplesmente
abandonado, transformando-se num problema para as autoridades, causador de
acidentes, muitos deles fatais, nas estradas por onde perambulam em busca de
alimento.
Agora, estão também ameaçados de ir para os matadouros,
ideia alvoraçada de um promotor desocupado da cidade de Apodi, que quer incluir
a carne de jegue no cardápio regional e sonha com a importação em grande escala
desse que já foi símbolo nacional.
O buraco, como sempre é mais embaixo. O problema no momento
é o abandono. Recentemente, o Detran do Ceará se viu na obrigação de recolher
os bichos abandonados e com isso diminuir os acidentes nas estradas. Não
resolveu um problema e criou outro ao ver-se de repente responsável por
centenas e centenas de animais, exigindo cuidados de veterinários, comida e
espaço. Aforamente os problemas burocráticos, uma vez que – por lei – Detran
nenhum pode manter fazenda, seja lá sob que pretexto for, muito menos contratar
veterinário ou comprar comida para equinos.
A solução do ingênuo promotor, que já promoveu inclusive uma
degustação, aberta ao público, de carne de jegue, também não tem futuro. Para consumir a carne
animal medidas mínimas de higiene teriam que ser adotadas. Independentemente da
questão cultural e de abrir mercado no exterior para a compra, os jegues teriam
que vir de criadouros, com normas de higiene, alimentação e cuidados especiais,
incluindo aí os matadouros e frigoríficos. Nada disso os animais abandonados
seriam capazes de atender.
Mas o que fazer então, com esse amigo do homem, esse nosso
irmão, como chamou Luiz Gonzaga? Ninguém sabe. Por enquanto, aquele como cantou
Luiz, que foi um verdadeiro desenvolvimentista do Nordeste, arrastando água,
madeira, lenha, cal, ajudando a fazer açudes, construir estradas, fazendo a
feira, servindo de montaria, é apenas mais uma vítima de abandono.
Será que o destino que lhe aguarda, por parte do homem que
tanto serviu, será apenas o abandono ou, na melhor hipótese, servir de comida?
Como disse o Luiz: ele merece mesmo esse fim, esse castigo. Não. O jumento é
nosso irmão, servidor do homem, animal sagrado, que levou Jesus para o Egito.
Tomara que tenha um destino melhor.
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