DOMINGO RECEBO O VOLUME MORTO AQUI EM CASA . OH, CÉUS!
Depois
de percorrer quilômetros e quilômetros de tubulações ele chega aqui, nas nossas
torneiras no domingo. Pra ser franco nunca havia passado por minha cabeça
receber nenhum volume morto, fosse lá do que fosse. Mas, entre explicações
técnicas, muita demagogia e politicagem aqui estou eu prestes e me entender com
esse tal de volume morto.
Ainda
não sei como me preparar adequadamente. Como será ele, levemente colorido, tipo
assim, meio cinza? Terá um cheirinho diferente? Será que é bom pra pele, já que
provavelmente, pelo menos é o que ameaçam especialistas surgidos aparentemente
do nada, mas todos cheios de teorias sobre esse tal de morto, que possui, além
de água propriamente dita, uma série de outros elementos, que ninguém sabe ao
certo quais são, em suas entranhas
misteriosas?
Junto
com o volume morto me vem a consciência de que estamos vivenciando a guerra
pela água. Declarada e bem viva. A legislação brasileira sobre o assunto, como
em quase tudo nesse país, é uma confusão. São responsáveis pelo abastecimento
do precioso líquido a união, os estados e os municípios, o que significa que
ninguém a rigor é responsável por coisa nenhuma, noves fora os consumidores
responsáveis pelas contas a pagar.
Rio
de Janeiro e Minas Gerais, cada qual a seu modo, já levantaram orelhas e vozes
em defesa dos “seus” mananciais, preocupados com a possibilidade de serem
usurpados por São Paulo. E até o Paraná já está de olho na pendenga. Na Serra
da Canastra, lembram da aulas de geografia, onde nasce o Rio São Francisco,
produtores rurais que vivam na santa paz do Senhor, começam a se engalfinhar ao
verem nascentes antes partilhadas harmoniosamente começarem a minguar.
O
assunto já ocupa lugar de honra na eterna briga PT x PSDB. Na internet petistas
comparam as obras de transposição do Rio São Francisco com a seca da Sistema
Cantareira, que segundo eles, e só eles mesmo, vai em ritmo acelerado jorrando
em “breve” água de montão nordeste afora. Na TV o pré-candidato do PT ao
governo do Estado, afirma que não falta água, o que falta é gestão. O outro
lado defende-se como pode, mas não tem como explicar como depois de passarmos
três anos sem as vigorosas e esperadas chuvas de verão, providências não foram
tomadas para evitar que tivéssemos de nos virar com o tal de volume morto.
E a
população? Parece que só agora, na hora de receber o morto, começa a se tocar.
A mania paulistana de “varrer” calçadas a jato de água diminuiu, assim como
aumentou o número de carros sujos nas ruas e a procura por lava a jato
ecologicamente corretos que não usam água. A indústria acordou e começou a
bradar os prejuízos que terão com a redução “voluntária” do consumo de água
necessário as suas atividades, assim como o agronegócio.
E se
não chover, como se espera, no próximo verão? E nos próximos e nos próximos, já
que serão precisos nada menos que cinco anos para que o Sistema Cantareira
volte aos seus níveis normais?
Por
enquanto cada um começa a se virar como pode. Aqui no prédio, uma tal de mina
d’água, que até ontem só servia de fonte de aborrecimentos, transformou-se em
alvo de admiração e interesse. Uma empresa foi contratada para avaliar as
possibilidades de aproveitamento do “manancial” e o zelador foi visto todo
orgulhoso afirmando que as escadas das áreas de serviço estavam sendo lavadas
com a “água da mina”, assim como a rega dos jardins. Só espero, que depois do
volume morto não tenha que encarar a “mina”.
No
mais é esperar para ver. E incluir nas minhas combalidas economias mais gastos
com água mineral, que também não sei, ao certo de onde vem. Até mesmo o
cachorro, já foi decretado por quem manda aqui em casa, vai beber desse tal de
volume morto. Só mineral e pronto.
Pelo
visto só entoando: louvado seja Deus, ó meu Pai, louvado seja Deus ó meu Pai. E
incorporar rapidinho crenças e maneirismos do sertão nordestino na maior
metrópole do país. Noves fora é claro, algumas pilantragens: o lava-jato aqui
da esquina já ergueu uma faixa, hoje pela manhã: “Nossa água é exclusiva do
nosso poço artesiano. Estamos colaborando com a seca”. (sic).
Então
tá, né? Que venha o volume morto.
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