SIM. EU VOU TORCER PELA SELEÇÃO
Alguns
conhecidos torceram o nariz. Como assim? Vou torcer, primeiro porque gosto de
futebol e de esportes em geral e torço por qualquer atleta ou equipe nacional.
Vibro com a seleção de vôlei, de basquete, torço pelos nossos atletas da
natação e vibro até por uma tenista recém surgida, cujo nome nem sei, mas que
está fazendo sucesso nesse esporte dito “elitista”. Torço porque acho que uma
coisa não tem a ver com a outra, por mais esforços que governantes de plantão e
demais desavisados façam para mistura-las.
Torço porque me lembro da década de
70, quando lutávamos contra a ditadura e parecia impossível torcer pela seleção
sem que isso significasse apoiar o regime. Na época governo e seleção pareciam
irmãos siameses, com o então presidente de plantão, um amante do futebol,
intrometendo-se inclusive na escalação, embora sem sucesso.
Lembro
das intermináveis reuniões onde esse assunto era discutido à exaustão e saíamos
todos decididos a, quando muito, assistir silenciosos os jogos da “seleção
canarinho”, jamais entoar o “Pra Frente Brasil, Brasil” e deixar as nossas preferência
recaírem sobre as brancas canelas dos países socialistas ou, na pior das
hipóteses, democratas. Qual nada.
Diante da TV, quando possível, ou pelo menos
de ouvido colado no radinho, quem resistia a magia de craques como Gerson,
Pelé, Tostão, Jairzinho e Rivelino, para ficar só em alguns exemplos? Gritos
sufocados ou berros que equivaliam ao lixe-se o centralismo democrático,
queríamos mesmo é que a nossa seleção vencesse. E não foi por isso que a
ditadura acabou, mais cedo ou mais tarde.
Ah,
mas se a seleção vencer fortalece o governo, dizem alguns da oposição. Se
perder sairemos beneficiados com a frustração com o governo. Se ganharmos
derrotaremos mais facilmente a oposição. Muito bem, pode ser que seja, mas e eu
com isso? Nada. Não escolho governantes pela via das canelas de Neymar ou das
chuteiras do Fred. Azar de quem o faz. Sinceramente não acredito nessa
transferência maciça de votos, dependente de resultados em Copas do Mundo. Ah,
cria um clima de euforia? De que tudo no Brasil dá certo, ainda que por linhas
tortas? Não acredito mais nisso. Por alguns momentos esquecemos nossas agruras
e dificuldades, alegres e fagueiros acompanhando a performance dos nossos
craques. Pode ser. Mas e daí? A realidade, boa, ruim, mais ou menos, a
esperança, o medo, seja o que for, está ali, na porta, esperando só a festa
acabar. E não há como escapar.
E
tem mais: protestos e manifestações vão acontecer. Oportunistas? Sim, como não
ser? Qual a categoria, segmento, grupos, qualquer um, deixaria de aproveitar
uma oportunidade dessas, para conseguir melhorias ou expressar suas opiniões e
insatisfações? Todo o país e o mundo de
olho. A maior e a melhor cobertura da mídia nacional e mundial, que se poderia sonhar
e que pode levar anos e anos – e que muito provavelmente não se repetirá, toda
ela, aqui, acessível e atenta. Sem falar dos governos, cautelosos, prontos para
reprimir, mas ao mesmo tempo com medo de aparecerem como brutamontes, de olho, também,
na proximidade das eleições. Como não aproveitar esse momento único? Ainda que
sejam tomados como simples arruaceiros, estarão, por aí, antes, durante ou
depois do evento, cutucando consciências.
Quem
vai se dar melhor? Como diria uma certa senhora dona de bar, na Boca do Rio, em
Salvador, “e eu sei lá”. Eu quero torcer,
me divertir com os jogos e gritar Goooolll. E podem crer, não vai mudar nada do
que penso sobre o país, sobre nossos governantes, políticos, administradores e
oposicionistas.
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