SE VOCÊ NÃO É... QUEM LHE REPRESENTA? NINGUÉM.

(de uma ideia de J.R. Guzzo)

J.R. Guzzo, em crônica recente, levanta, bem humorado, uma questão que replico aqui: se você não é uma “exceção” na sociedade brasileira, quem lhe representa? Lembra de algum político que tenha se preocupado com – vamos chamar assim – as pessoas normais? Aquelas que apenas cuidam de sua própria vida, não dependem dos cofres públicos para sobreviver, pagam seus impostos e contas em dia, cumprem com as leis – e pasme: trabalham regularmente, seja como assalariado ou empreendedor, os filhos estudam, a mulher trabalha.... Não usam o serviço público de saúde, não recebem autoridades públicas em casa... Se você se enquadra nessa categoria, sinto muito, mas você está só. Seu futuro é incerto, nenhum político ou partido, seja da situação ou da oposição, está preocupado com você, com o seu  futuro, com a sua família.

Provavelmente você é tachado como das “zelistes”, inimigo dos pobres, dos movimentos sociais, pertencente a minoria das minorias (sabe-se Deus como chegam a essa conclusão) e não é merecedor da atenção nem das nossas “otoridades”, nem da valorosa oposição, que acredita ser necessário olhar apenas para as “minorias”, pois, caso contrário, acreditam, jamais se elegerão para alguma coisa, para um cargo qualquer, por mais insignificante que seja. Sem minorias, não dá. E você? Você é o pato.

Tem jeito? Tem. Você pode se inscrever no Bolsa Família, mesmo ganhando bem mais do que os que merecem o benefício, ou – quem sabe - no programa Minha Casa Minha Vida ou ainda – se não tiver paciência para esperar pelo imóvel – que  depois você vai alugar ou vender, pode furar a fila se filiando ao MSTS e, enfim, faturar algum às custas do governo. Pode também chamar a atenção participando do black bloc, se tornando amigo da Sininho... Não conhece Sininho? Não tem problema, ainda restam os quilombolas, os índios, os sem terra os sem teto, o pessoal das “comunidades”... Ah, prefere algo mais radical? Arruma uma deficiência ou um vício,  tipo assim cheirar pó, fumar crack. Pode também cometer um “deslize” qualquer e pedir uma delação premiada, preferencialmente incluindo na lista de procurados pelo Interpol, que dá mais charme. Se tiver algum dá pra ser empreiteiro de obras públicas, arrumar umas maracutaias, preferencialmente com grandes empresas de economia mista, chama bastante atenção e você entra para um clube “exclusive”. Em último caso saia por aí em busca da sua verdadeira identidade sexual, sempre tem um jeito de se destacar, declarar-se minoria e ganhar um lugar ao sol. Se lhe faltar imaginação para qualquer uma dessas coisas (tá difícil, hein?) declare-se vítima da ditadura militar, não importa que você nem tenha nascido na época, dá-se um jeito. Tem indenização e pensão vitalícia.


Bom, mas se nada disso lhe agrada, sinto muito... você é um pária da sociedade brasileira. Ninguém lhe representa, ninguém quer saber de você. O seu destino é pairar por aí, sem voz, sem vez. Quem sabe, algum dia, alguém descubra que boa parte dos brasileiros é assim, igual a você. E aí, talvez, uma voz se levante em prol da maioria, dessa maioria silenciosa, que faz a sua parte, que constrói esse país. Um dia, quem sabe. Veremos.

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