IMPEACHMENT E AS DIVERTIDAS “COINCIDÊNCIAS” HISTÓRICAS


 Agora, com a palavra impeachment na boca do povo, de “uns povo” a favor e de “outros povo” contra, é interessante observar como certos personagens, que estão direta ou indiretamente presentes nesse debate de hoje, estiveram, também, como protagonistas, em episódio do passado recente da nossa história, o impeachment do Collor.

Impeachment pra lá, impeachment pra cá, escândalos financeiros, CPIs..., defesas e ataques exacerbados, manifestações contra e a favor, é divertido e didático, observar as semelhanças/dessemelhantes com o único episódio real de impeachment da nossa história e, como alguns personagens, de hoje, estiveram também no passado como protagonistas, ainda que em posições contrárias as de hoje no caso Collor.

João Santana, que está no perfil biográfico traçado por Luiz Maklouf Carvalho – João Santana, um Marqueteiro no Poder, que comento mais adiante, foi um dos que ajudaram a detonar o processo de impeachment de Collor, com uma reportagem, assinada por ele e pelo jornalista e hoje também marqueteiro, Augusto Fonseca, feita o motorista Eriberto França, detalhando todo o esquema de corrupção do governo da época.

Hoje, João é o marqueteiro do Governo Federal e deve se lembrar muito bem das manobras todas, urdidas para tirar Collor da Presidência, da quais participou ativamente, inclusive passando as informações bombas que conseguiu com o Eriberto, para a CPI em andamento no Congresso, pelas mãos de Mario Covas. Foi uma forma de evitar que elas se perdesse ou fossem parar em mãos erradas, ao mesmo tempo em que serviam como uma espécie de seguro, para ele e Augusto Fonseca, caso a revista, cuja direção nacional nutria simpatias por Collor, não publicasse a reportagem.

Collor foi inicialmente apoiado entusiasticamente pela grande imprensa, que como o mesmo entusiasmo batalhou, depois, pela sua saída. Para o historiador Gilberto Maringoni, da USP, ele era visto inicialmente como saída para que o “mercado” fosse o polo dinâmico e comandasse a economia. Mas Collor teria, na opinião do historiador, cometido dois erros: foi desleixado para manter maioria no Congresso e entrou, também, em confronto com uma parte expressiva do empresariado, o que fez com que a imprensa mudasse de posição.

Existiram ainda outros dois ingredientes, que resultaram na mobilização popular, nascida a partir do momento em que a imprensa começou a divulgar os escândalos que envolviam o presidente: a crise econômica, com a volta da inflação e, segundo ainda Maringoni, a facilidade da população em entender o escândalo, que continha elementos bem visíveis e contornos de uma verdadeira novela, inclusive com eventos que caíram no gosto popular, como um suposto caso de adultério com a cunhada (Thereza Collor), roupas íntimas para a primeira dama compradas com cheques do tesoureiro de campanha, o PC Farias, e outros eventos do tipo, fazendo com que a CPI que o investigava fosse acompanhada pela população como um verdadeiro reality-show.

É sempre bom lembrar que, depois de anos e anos de ditadura militar, tudo era também uma grande novidade: democracia, eleições, CPIs, marketing político, imprensa livre. Tudo devorado com muito entusiasmo pela população.

Nas semelhanças/dessemelhantes temos os escândalos, o atual não tão fácil de ser compreendido pela maioria da população, na sua magnitude e nuances, mas – por outro lado – temos uma crise econômica, que não deixa dúvidas com a volta da inflação e todos os seus demais ingredientes. No Congresso, assim como Collor, embora de formas bem diferentes, Dilma enfrenta dificuldades, não para formar, mas para manter na linha os seus incontáveis e rebeldes aliados, enfrentando, agora, abertamente, a rebeldia, do seu mais importante parceiro, o PMDB.

É claro que apesar das semelhanças e dessemelhanças, os tempos são outros, os personagens são outros, etc., etc. De mais interessante é a presença de João Santana como protagonista importante nesses dois momentos da nossa história, o primeiro e único impeachment até agora registrado e, que volta a ser cogitado, hoje, ainda por uma minoria bem minoritária, mas que vai encontrá-lo no outro lado, dos que não querem nem ouvir falar em cassação de mandato.

O que nos faz voltar ao livro em que é traçado o seu perfil biográfico.
Nele, pela primeira vez, publicamente, João faz uma análise das últimas eleições, desmoraliza de vez a máxima cunhada por outro marqueteiro famoso, o Duda Mendonça, de que “quem bate, perde e – sem mais delongas, cai de pau, mais uma vez, nos adversários na campanha presidencial, que não conseguiram “responder” às questões suscitadas pela campanha de Dilma, “por pobreza teórica, lerdeza técnica ou soberba mística. Ou as três coisas juntas”.

João acredita também que fez um embate “100% político e 200% programático”. E que seus adversários não souberam revidar, “seja por ingenuidade, fragilidade teórica, ou por soberba”. Além de se fazerem de vítimas e de superiores, principalmente no caso de Aécio. Talvez , afirma João, em entrevista ao autor do livro, “acreditassem em uma falsa teoria implantada no marketing político brasileiro de que “quem bate, perde”. Perde quem não sabe atacar. Como também perde quem não sabe se defender.

O livro, tem altos e baixos, nada que possa ser atribuído a João, mas vale a leitura pela maneira franca com que o marqueteiro enfrenta todas as questões e diz abertamente o que pensa. Pode-se até não gostar do personagem, mas ele não tem nada de trouxa, tem preparo, é audacioso e é dono de um currículo de vitórias de fazer inveja a qualquer um que milite na área.

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