LIÇÕES DO MENSALÃO E BARBAS AO MOLHO
Ah,
o procurador vai pedir também o fim do sigilo, com isso saberemos, caso
Zavascki concorde, os nomes dos envolvidos e do que estão sendo acusados. Nada
mais do que isso, mas o suficiente para colocar um monte de gente sob suspeita
e aumentar o nervosismo no Congresso e cercanias, onde rola mais uma CPI, cuja
âmbito, já avisou Eduardo Cunha, vai ficar mesmo restrita ao período
Dilma/Lula.
As
barbas ao molho estão com os empreiteiros e demais “civis” envolvidos na
operação. Se o caso do Mensalão servir como exemplo, ou parâmetro, para o que
pode acontecer, a lição do caso é que na cadeia mesmo só ficaram os
“operadores” do esquema. Os políticos envolvidos estão todos fora da prisão,
condenados que foram à penas menores e, por isso, beneficiados com a redução do
tempo atrás das grades e outras benesses proporcionadas pela legislação.
Os
“civis”, portanto, do Petrolão, não têm como não pensar nisso. Será que se o
Marcos Valério, que pegou 40 anos de cana, logo no início tivesse negociado uma
delaçãozinha premiada não teria se dado melhor? Dizem por aí que ficou calado
devido a ameaças de morte que incluiriam a sua mulher e filhos. Vai saber. O
fato é que ele, o sócio, a dona do banco rural e auxiliares próximos receberam
penas maiores e estão até hoje longe de qualquer benefício. E Marcos Valério é um peixe pequeno, se
comparado aos figurões que estão amargando cadeia, que dispõe de muito mais
recursos para se defenderem. E, que – obviamente – não pretendem passar anos e
anos presos.
Recentemente
houve alguns recuos no ímpeto de aderir a delação premiada, com a promessa de
que haveria alguma espécie de intervenção, destinada a minimizar penas,
investigações etc., e tal. Podem até acreditar nisso, mas com as barbas de
molho, nenhum desses empresários vai topar assumir a culpa por toda a
roubalheira se os políticos envolvidos se safarem integralmente dos processos,
ou – pelo menor – com penas muito menores. Mas não vão levar todo o tempo do
mundo esperando os resultados. Foi o que fez o Marcos Valério e Cia e não se
deram bem.
Outro
fator de "turbulência", tomando emprestado a expressão usada pelo ex- governador
da Bahia, o atual ministro da Defesa, Jacques Wagner, é a tal de CPI, que
prometia investigar todo mundo, até Pedro Álvares Cabral, mas se seguir o
script das suas anteriores, vamos ter muita fumaça e pouco fogo, correndo o
risco de colaborar mais para encher o saco do distinto público, com esse
assunto, e contribuir para que – pelo menos uma – das pizzas vá para o forno.
De
qualquer forma, sempre podem aparecer surpresas, na segunda-feira passada, Janot,
num gesto incomum, deu demonstrações de que está gostando da exposição e
segurou para a imprensa um cartaz do Movimento Vem Pra Rua, onde ele é dado
“como esperança do Brasil”. Nunca se sabe do que pode ser capaz alguém cujo ego
seja exaltado, ainda que por parte da opinião pública, nesse nível.
Muita
água ainda vai rolar por baixo da ponte e o escândalo, desta vez, pela sua
influência na economia e por envolver organismos internacionais na questão,
imunes as pressões políticas paroquianas, tende a se aprofundar e a permanecer
nas manchetes por muito mais tempo, e com muito mais vigor que o seu
antecessor, o Mensalão. Isso aliado aos percalços político-econômicos do
governo federal, promete afetar de maneira muito rigorosa a vida do país por
muito, muito tempo.
Os
resultados finais são imprevisíveis. Se as delações premiadas, ainda em curso,
produzirem provas efetivas, esse será o escândalo mais duradouro e melhor
documentado da história nacional, estendo-se inclusive à Justiça de outros
países. Vale lembrar que algumas das mais recentes investigações sobre as bandalheiras
que assolam o País, só foram para a frente por conta das suas conexões externa,
pressionadas pelo judiciário de outros países, como foi caso do cartel da Alstom, por exemplo. A oposição,
com parte das suas barbas também de molho, por enquanto parece disposta só
mesmo a fazer barulho na CPI.
E a grande novidade apresentada até agora parece
ser mesmo, e unicamente, a barba de Aécio Neves.
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