OS ESTRANHOS E TORTUOSOS CAMINHOS DO VOTO


Leitura aligeirada de pesquisas dificilmente refletem o sentimento da população com relação a seus governantes e muito menos a intenção, segura e sincera, do voto. Recentemente me deparei com duas histórias curiosas de como, por razões completamente diferentes do “ideário” dos candidatos, alguns eleitores decidem depositar neles os seus votos. As duas histórias não tem nenhum valor estatístico, são apenas curiosas e divertidas, embora provavelmente reflitam bem como são tortuosos e insuspeitados os caminhos percorridos pelos votos.

IA VOTAR NO HOMEM, VOTOU NA MULHER A AGORA É CONTRA OS DOIS.

Conheço uma senhora, vamos chama-la de F, que é diarista e o marido cobrador de ônibus, moradora da periferia de São Paulo, com um filho adolescente. A família com renda familiar em torno dos três mil reais estava muito satisfeita com tudo, principalmente com os bens recentemente adquiridos, como computador, TV de tela plana e outro eletrodomésticos, inclusive um modesto carro de segunda mão. Fizeram inclusive algumas viagens ao Nordeste para visitar a família. De avião. Aparentemente eleitores do PT. Acontece que, antes das últimas eleições presidenciais, F afirmava categoricamente que iria votar no “homem”, uma aparente contradição, já que se declarava muito satisfeita com a condução do Governo, que tantos benefícios lhe havia proporcionado. Acontece que F estava apenas muito aborrecida com seus vizinhos que, ao contrário dela e do marido, não trabalhavam, vivendo exclusivamente do Bolsa Família. Uma injustiça, aos seus olhos, que culminou com a sua decisão de votar  no “homem”, que a seu ver acabaria com a “injustiça”, dando um fim no tal de “Bolsa”.  Nas vésperas da eleição, F mudou radicalmente de ideia e decidiu votar na “mulher”. Motivo:   “pensei melhor, se o homem ganha, acaba com o Bolsa, aí esse pessoal ia ficar sem dinheiro e terminaria me roubando”.
Em tempo: F já se arrependeu do seu voto. Bastou o aumento do custo de vida, principalmente dos alimentos, para mais uma reviravolta. Hoje ela é mais um dos a favor do impeachment – “a ‘mulher’ sumiu, não está fazendo nada e seria bom que esse tal de impeachment botasse outro no lugar”. Mas faz uma ressalva: desde que – seja lá quem for que vier – não acabe com o Bolsa Família. E que não seja o ‘homem’.  Porque “ele sumiu e não está fazendo nada para melhorar a vida do povo”. Entendeu?

MONARQUISTA, DITATORIAL, PARLAMENTARISTA

Perto de casa tem um serralheiro, que toda sexta-feira promove um churrasquinho de calçada, extensivo aos seus dois funcionários, alguns amigos e mais raramente a eventuais clientes. Conheço o dito cujo meio de passagem, mais de bom-dia e boa-tarde que de qualquer outra coisa, mas de tanto passar pra lá e pra cá, volta e meia recebo o convite: vai uma cervejinha aí, prezado? Outro dia aceitei e ouvi essa, do borracheiro da esquina, participante frequente do churrasco, que se declara monarquista e afirma que votou no “Jorge, aquele maconheiro, que é pra tudo virar logo uma esculhambação geral”, as últimas eleições.

Segundo ele, com a concordância geral, todos os políticos são ladrões. E a solução para o Brasil seria ter um Rei, “como lá nos ingleses”, mas com um “tipo assim gerente” para tomar conta das coisas – o Rei ficaria fiscalizando tudo, de cima – com a ajuda de umas 10 pessoas (no máximo, fez questão de frizar). Não precisa de senador, deputado nada disso. Nos Estados o mesmo modelo, um governador, nomeado pelo Rei, com o seu “gerente” e uma meia dúzia de gente pra ajudar. O “parlamentarismo” estaria restrito aos municípios. O governador nomearia o tal gerente e a população elegeria os tais seis ajudantes, que poderiam desempregar o gerente se ele não estivesse trabalhando direito e pedir ao governador que nomeasse outro.

Os detalhes causaram certa polêmica, mas em linhas gerais todos concordaram que o negócio de um ter um rei mandando em tudo, poderia ser bom, pois acabaria com esse negócio de políticos e essa quantidade enorme de partidos que só servem para roubalheira. Como a carne e as linguiças já estavam no ponto e com a abertura de mais cervejas a discussão foi encerrada, com a reafirmação de tem mesmo é de acabar com esse negócio de políticos, eleições e partidos. Mas se o rei fizer merda, como é que fica, perguntei. Ah, aí chama os militares e tira ele. Ah, bom. Tudo resolvido.

Pois é, são tortuosos e enganadores, muitas e muitas vezes, os caminhos que levam aos votos do ‘homem’, da ‘mulher’, do ‘maconheiro’ e muitos outros. Sem compreender isso direito muito candidato está comprando gato por lebre, achando que tem um capital de votos inexistente e deitando uma falação sem nenhuma aderência do eleitorado.

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