PESQUISAS POLÍTICAS... AH, AS PESQUISAS.
Faz tempo que nos acostumamos com as
“análises” das pesquisas nas áreas de política e administração pública, na
maioria das vezes, debruçadas unicamente para os números frios e secos. X por
cento são a favor disso ou daquilo, X por cento aprovam ou desaprovam
determinado governo e, geralmente, ficamos por aí. Recentemente pesquisas
afirmam que mais de 60% por cento dos brasileiros são a favor do impeachment da
presidente. Será?
A meu ver temos dois problemas na
análise dessas pesquisas. O primeiro deles é o bordão, recitado à exaustão por
pesquisadores e profissionais do marketing políticos, de que as pesquisas são
um retrato do momento – já vamos a ele. O segundo é que, poucas vezes,
pouquíssimas vezes mesmo, se procura ver o que há, de verdade, por trás dos
números secos e frios.
No primeiro caso o bordão é – se me
permitem – verdadeiro e falso ao mesmo tempo. Na verdade o que profissionais do
MKP e pesquisadores querem dizer é que “em 20 minutos tudo pode mudar”.
Portanto não entendam os números como permanentes e imutáveis e não me
responsabilizem por mudanças. O problema é que as pesquisas são um retrato, é
verdade, mas não daquele momento, mas de um outro, que já passou. Não existe
presente sem passado, nem futuro. Quando as pessoas respondem a qualquer
questão elas estão considerando as suas experiências passadas, não importa se
muito recentes, pouco recentes ou do passado remoto. E a partir de uma
situação/experiência que deseja um determinado futuro. É nesse sentido que as
pesquisas podem ser, efetivamente, “retrato de um momento”. Mas se não
houver um “pensar” sobre o que levou (passado) as pessoas a responderem de uma
determinada maneira à questão proposta e não se levar em conta o que ela está sinalizando
para o futuro, o tal “retrato do momento” pode levar a erros.
Não é a toa que as tais pesquisas de
“boca de urna”, muitas e muitas vezes desmentem categoricamente as anteriores,
numa reviravolta de resultados que fazem com que muita gente fique desconfiada
dos institutos e seus analistas. Todos parecem esquecidos de que as anteriores
eram apenas um “retrato de um momento” no passado, que já era passado no
momento de sua divulgação.
Sem uma análise/conhecimento mais
profundo dos motivos que estariam levando determinados segmentos a votar neste
ou naquele candidato, serem a favor ou contra determinada ideia ou projeto, os
números frios/secos certamente levam a formulação de discursos e plataformas
equivocados.
Outra questão, fundamental, é sequência.
Só baterias sequencias de pesquisas, onde se pode avaliar tendências e
oscilações de opiniões, podem permitir um conhecimento efetivo da realidade.
Infelizmente no Brasil, no caso mais especifico do MKP, debruça-se sobre
pesquisas quase que exclusivamente no período eleitoral. Quando muito um pouco
antes. E a ênfase é muito mais na tendência de votos e na identificação
simplista dos “problemas a serem resolvidos”.
A ânsia de estar conectado e em
concordância com o que se imagina que a população quer também é problema. Por
exemplo, a maioria da população se diz hoje, a favor da redução da maioridade
penal. E aí lá se vai o sujeito alardeando a sua concordância. Mas vai que – de
repente – melhoram as condições da segurança pública e os ventos mudam, já que
– ainda hipoteticamente – as pessoas estavam apenas exprimindo o seu
desconforto com a violência. O resultado é que o apressado pode se ver falando
sozinho no futuro.
Pesquisas quantitativas, por si só,
não dizem muita coisa. Assim como qualitativas superficiais também não levam a
nada, principalmente se a ideia for apenas “coletar problemas” para serem
quantificados posteriormente. A combinação constante e científica dos dois
modelos, com a construção de cenários que permitam ver o que aconteceu no
passado, que está a influenciar o presente, formando as expectativas/perspectivas
de futuro é que podem fornecer os elementos necessários para uma compreensão
correta da realidade e permitir que sejam traçadas políticas com o olhar à
frente e não no retrovisor. O resto pode servir apenas como enganação e levar a
resultados completamente antagônicos aos que se deseja alcançar. Depois não
adianta nada dizer que as pesquisas estavam equivocadas.
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