IMPEACHEMENT NÃO É GOLPE. É INOPORTUNO.


O Brasil recente (em termos históricos, apenas) registra algumas grandes crises com a saída, compulsória de uma forma ou de outra, dos seus presidentes (54, 61, 64 e 92). Em 1954, Getúlio Vargas. Pressionado, optou pela tragédia, com o suicídio, trauma que de alguma forma nos persegue até hoje.
O País conhece alguns anos depois outra renúncia, esta em ritmo de farsa, ao contrário da de Getúlio, encenada por Jânio Quadros, em 61, que contava com uma “revolução” para levá-lo de volta ao poder. 
Em 1964 escapamos por pouco de uma tragédia maior,  (não que a implantação de uma ditadura que durou anos e anos seja pouco), uma tragédia, repito, pessoal e nacional, com uma guerra civil, que chegou a ser desenhada, mas que foi frustrada pela pouca disposição de luta do então presidente, João Goulart, que preferiu capitular.

Em 1992 tivemos o primeiro e único, até agora, impeachment. O que poderia ter sido uma grave crise institucional e política resolveu-se em ritmo de opereta, com o presidente tentando uma bravata que se revelou inócua e ridícula. Vale lembrar, como parêntese, que Collor foi eleito, também, com 50,01%, dos votos dos brasileiros.  Sem nenhuma base de apoio no Congresso,  e com índices de desaprovação inéditos, foi apeado em ritmo de caixa do poder. Formou-se uma governo de coalizão, não de cooptação. A diferença é que existiam no Congresso figuras de maior envergadura, infinitamente maiores que as atuais, tanto à esquerda como a direita, que conseguiram contornar a crise e manter o País na normalidade institucional.

Nenhuma das situações mencionadas acima se parecem com a crise atual. A presidente possui, ainda que capenga, uma base de apoio no Congresso e o seu partido está longe de ser o tal de PRN, partido do Collor, que conta – pelo menos por enquanto - com o apoio dos tais “movimentos sociais”.  Além disso, a presidente, que se recusa a admitir qualquer tipo de erro na condução da política econômica, aliada a sua inapetência extraordinária para o diálogo e a fixação pela sua auto imagem de guerrilheira, dona da verdade, nada sugere em sua personalidade, que possa ter a grandeza cívica de colocar os interesses do País acima de sua vaidade e das suas crenças. Não tem perfil para renúncia, seja como farsa ou beirando a tragédia. Ser apeada à força, seja por um processo de impeachment ou pelas armas, está longe, muito longe, de qualquer realidade. Grupos de abilolados podem se esganar pedindo a volta dos militares, o que não acontecerá. Não há clima nem nos quartéis, nem entre a população para isso. As forças políticas, que poderiam deflagrar um impeachment não existem e, na hipótese improvável de isso acontecer, levaria o País a uma crise cujos resultados ninguém pode prever

O desfecho para a crise política ainda está longe, mas é possível vislumbrar o um certo ar de opereta no ar. Ninguém em seu juízo perfeito acredita que o TCU ou a Justiça Eleitoral venham a apear a presidente, pela sua composição o STF muito menos. Grande grupos empresariais já sinalizam a necessidade de acalmar a crise, pedindo uma certa acomodação, temerosos de que as coisas fujam totalmente de qualquer controle. A oposição continua atarantada, vítima do interesse particular das suas lideranças, que divergem e não se entendem sobre o futuro não apenas da Dilma, como do País, embora comecem agora, basicamente o PSDB, a "unificar"um discurso em prol da renúncia.

A renúncia improvável de Dilma seria o melhor dos mundos para todos, ou quase todos: assumiria o vice, nos livraríamos do trauma de um impeachment ou de uma eleição fora de época, que se realizaria em clima de guerra, praticamente impedindo – seja quem for o eleito – de realizar as mudanças e medidas necessárias de recuperação da economia. O PSDB não precisaria enfrentar outra guerra eleitoral e ter ainda que descascar o abacaxi deixado por Dilma, O PT se livraria do pepino, com tempo para se reinventar e continuar vivo.

Mas, ao que tudo indica, a solução pode ser mesmo uma acomodação geral, com a crise se prolongando até a exaustão, sem que nenhum esforço real em torno de objetivos comuns que nos poderiam colocar entre países que souberam combinar liberdades políticas com igualdade social, vivendo, o que parece ser uma maldição que afeta quase toda a América Latina,  uma crise atrás da outra.

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