INTERNET, DEMOCRACIA E AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES I



Definitivamente o boca a boca está perdendo espaço na política, na decisão do voto.

Segundo pesquisa do Ibope, publicada na coluna de José Roberto Toledo, no Estadão (14/01), as conversas com amigos e parentes caíram à metade na hora de escolher candidato, enquanto as interações digitais foram multiplicadas por seis.

A constatação dessa mudança está expressa também em artigo de pré-candidata a prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy,(15/01) na Folha de São Paulo, em que afirma estar se processando “uma verdadeira revolução no processo político contemporâneo”. “As pessoas, jovens especialmente, manifestam-se e influenciam os processos decisórios da sociedade, mas o fazem, porém, longe dos canais partidários”, afirma a senadora.

A opinião da Marta fica mais interessante quando comparada à prática dos nossos políticos, definitivamente analógicos. Ainda que a presença dos mesmos na internet tenha crescido extraordinariamente nos últimos anos, essa presença, no entanto, é feita de maneira improvisada, esporádica e basicamente centrada no próprio umbigo.

Os políticos, de modo geral, ainda não entenderam o potencial e as especificidades da rede. Um dos maiores erros é a falta de interação com seus “seguidores” e o distanciamento das questões do dia a dia, que afligem a população de uma forma geral. Falam sobre suas proezas e do seu métier e muito pouco, ou nada mesmo, do que interessa de fato às pessoas.

Ninguém ainda descobriu os limites dessa política 2.0 que inunda as redes sociais”, diz com toda razão Marta, em seu artigo. “Alguns a saúdam, por enxergarem nela uma superação do velho regime republicano, representativo, baseado na eleição de vereadores, deputados, senadores. Outros enxergam nela apenas um modismo, que mobiliza as pessoas, mas jamais conseguirá sobrepujar a democracia assentada nos partidos políticos”.

Quem aposta só no modismo tende a ficar para trás, como fica claro na pesquisa realizada pelo Ibope. Em 2008, apenas duas eleições municipais atrás, 47% do eleitorado afirmava que o diálogo presencial  com as pessoas do seu círculo familiar, de amizades e profissional era muito importante para a coleta de informações e o seu processo decisório sobre em quem votar, informa Toledo em sua coluna.  Mas em dezembro de 2015, essa taxa caiu para apenas 22%, um pouco menos da metade.

Paralelamente, segundo a mesma pesquisa, as consultas a sites na internet aumentou consideravelmente. Foi de 3% para 14% o percentual de brasileiros que cita este meio para obter informações sobre o processo eleitoral. Redes sociais como o Facebook, WhatsApp e Twitter, praticamente ignoradas em 2008, hoje são acessadas por cerca de 5% da população.

Se consideramos, como enfatiza Toledo, que a propaganda eleitoral oficial é citada por 19% como fonte de informações, temos aí um empate na relevância dos meios: (5% - redes sociais + 14% - sites), bem próximas das conversas com amigos e parentes (22%) e com o rádio (18%).

Apesar de tudo a TV ainda continua liderando, com 48% em 2008 e 51% em 2015 (vale lembrar aqui, o momento especial da última eleição presidencial, onde o vale-tudo incluiu até mesmo a morte de um dos candidatos bastante promissores e o aumento da competitividade dos candidatos oposicionistas).

A TV ainda requer um olhar mais atento: nas cidades com até 500 mil habitantes, ela é citada como a principal fonte de informação por 41% dos eleitores, contra expressivos 60% naquelas que possuem mais de 500 mil habitantes. Toledo acredita que a explicação estaria na ausência dos telejornais, nos municípios menores, onde o rádio cresce de importância (23% contra os 16% nas grandes cidades) e o boca a boca ainda é o segundo meio mais influente com 28%.

Os jornais e revistas continuam lá na rabeira, oscilando de 12% para 10%.

O certo é que apesar dos meios tradicionais ainda terem uma forte influência sobre a decisão do voto, a internet, os meios disponíveis na internet avançam aceleradamente, como fontes de informação, palcos de discussões e proporcionando elementos importantes para uma tomada de decisão na hora do voto.

A Marta em seu artigo, acredita que o “x da questão” está em saber se  “os partidos políticos conseguirão renovar seus métodos para conversar com essa sociedade engajada e suas organizações independentes e livres ou estarão fechados para esta agenda da contemporaneidade”.

Um bom sinal é que pelo menos alguns políticos, como a Marta, já estão começando a ver a importância da internet para o marketing político e eleitoral. Abrir-se para o que acontece no mundo digital será salutar para a democracia e o aperfeiçoamento do processo de escolha dos nossos representes. Amém.

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