FLERTANDO COM O CAOS
Os
ânimos, para dizer o mínimo, estão mais que exaltados.
Nada
no horizonte indica uma possível saída para a crise política e econômica, que
seja sem profundos traumas e radicalizações, cujas consequências são as piores
possíveis e de longo prazo. E qualquer um, com um mínimo de tirocínio, já sabe
que vamos vivenciar, pelo menos uma
década perdida.
Uma
das piores consequências da crise em que o País está mergulhado é a crescente
rejeição por parcelas cada vez maiores da população a “classe” política como um
todo. Tá, a turma, em sua maioria, não desperta mesmo alguma confiança e muito
menos simpatia, mas o sentimento reinante é que todos, ou na melhor das
hipóteses, a maioria, está envolvida em alguma falcatrua. E ninguém parece se dar conta de que não será
possível encontrar uma saída se não for pela via da política.
E o
pior é que a maioria dos políticos continua entretida nos seus joguinhos, no
reino da fantasia e da falcatrua em que se transformou Brasília, sem atentar
que o circo está pegando fogo e que não é preciso mais jogar combustível na
fogueira. Ele tende a se alastrar e não precisa de nenhuma ajuda para isso.
O
caos, vale sempre lembrar, é terreno fértil para o surgimento de picaretas de
toda a sorte e espectro político. Basta olhar para os EUA, onde um tipo como
Ronald Trump, com suas ideias – até recentemente – consideradas absurdas
demais, segue leve e fagueiro rumo a indicação pelo Partido Republicano. Na
Europa, bem recentemente, a Itália, depois de passar por um processo
semelhante, a tal de operação Mãos Limpas, terminou elegendo Silvio Berlusconi,
um extraordinário picareta, e deu no que deu. Aqui, elementos exóticos já
começam a ganhar mais simpatia do que poderíamos supor e preparam-se
alegremente para o bote.
A
polarização, incentivada por gregos e troianos, de forma altamente
irresponsável, já começa a ser materializar nas ruas. O chamamento a “porrada”,
rola fácil na boca inclusive de governantes, justamente aqueles que deveriam
estar zelando, minimamente, pela ordem institucional. Governantes e opositores
deixaram os pruídos de lado e o que se ouve são discursos e pronunciamentos
cada vez mais agressivos, inclusive, por parte da presidente, que
definitivamente subiu no palanque e adotou o “nós contra eles”, sem qualquer
constrangimento.
A
sociedade segue cada vez mais está dividida. Não importa o quanto cada um dos
lados tente desclassificar o outro. Ninguém está disposto a dar atenção ao
contraditória e a pátria que vá às favas. A divisão, se aprofunda a cada
momento, sem que qualquer saída para a crise econômica, principal motor, ainda
que oculto de toda a insatisfação, ocupe sequer a ordem do dia, deixando até
mesmo de ser mencionada, formalmente, nos discursos oficiais ou não.
A
polarização não está apenas nas ruas e já ganha voz na tal de sociedade civil
organizada. Entidades como a CNI, Fiesp e até a OAB, que costumam fingir estar
em cima do muro, publicam anúncios de página inteira nos jornais e emitem
notas, pedindo, clara ou sub-repticiamente, a saída da presidente. O Judiciário sai em sua maioria em defesa do
juiz Moro. Manifestantes tecem loas de amor a Polícia Federal e a tropa de
choque da PM de São Paulo, teve a ousadia de prestar continência a
manifestantes, contrários ao governo, ainda que no dia seguinte tenha sentado a
porrada nos que insistiam em permanecer na Av. Paulista. A sede da CUT já foi
apedrejada.
Sair
nas ruas, ainda que inadvertidamente, de vermelho ou preto pode resultar em
espancamento.
Os
apoiadores do governo não ficam atrás. Ser chamado simplesmente de
coxinha/classe média é quase um elogio. Como as suas manifestações dependem, em
geral de logística, ônibus, lanches, camisas e adereços fornecidos por
entidades e/ou partidos, demoraram um pouco mais, inclusive em número, para
tomar as ruas, mas estão chegando. Em São Paulo e no Rio, nesta sexta-feira,
uma multidões bastante expressivas tomaram as ruas para apoiarem a presidente,
o Lula, se manifestarem contra o impeachment e o juiz Sérgio Moro. Ainda que
incentivados por algumas lideranças a saírem “pro pau”, ainda são pacificas,
com os organizadores pedindo que não sejam respondidas as provocações.
Por
enquanto, quando estão frente a frente os dois grupos não se comportam tão
educadamente, ainda que os incidentes não sejam de maior monta, apesar dos incentivos
de muitas lideranças incentivarem a ida “pro pau”. Por enquanto tudo
razoavelmente em paz, sabe Deus quanto vai durar.
A
real é que, ainda que permaneçam pacificas, não há hipótese nenhuma de conciliação
das posições absolutamente irreconciliáveis. Seja qual for a decisão final do
Congresso, pelo impeachment ou não, nada acalmará o País. É preciso não esquecer que a crise econômica está
aí, como pano de fundo para a crise política. É possível – quem sabe – acalmar o
ambiente político, mas nada indica que os atuais atores tenham capacidade, ou
mesmo interesse em adotar as medidas necessárias para que o país pare de
flertar com o caos, a baderna, pare de dançar a beira do abismo em meio a uma
tempestade perfeita.
Comentários
Postar um comentário