OS ELEITORES BRASILEIROS E DE TRUMP
Boa parte dos comentaristas internacionais, que tenho
lido, se referem aos eleitores de Donald Trump, para explicar a sua
surpreendente ascensão, como “irritados”, “fartos de políticos”, com “baixo
nível de escolaridade” e “majoritariamente brancos”. É bastante provável que
essas características tenham alguma base nas pesquisas, mas seguramente, como
na análise dos eleitores brasileiros, que apoiam ou são contra a permanência da
Dilma na presidência, são – definitivamente – superficiais e insuficientes para
se ter uma ideia realista sobre quem são e em quem votam os eleitores,
apoiadores dos movimentos populistas que ganham força, à direita e à esquerda,
no Brasil e nos Estados Unidos, na Europa e em outras partes mundo afora.
Se retirarmos da análise o “majoritariamente brancos”,
vamos encontrar paralelos nos lugares e em candidatos os mais insuspeitados.
São eleitores que não se importam com dados, informações e constatações (inquestionáveis
na maioria das vezes) que colocariam em dúvida a integridade, honestidade,
sinceridade e propósitos dos seu candidatos.
No caso brasileiro, os que vão para as ruas
protestando “contra tudo isso que está aí” e cuja principal bandeira é o “fora
Dilma, fora PT”, poderiam muito bem, como os seus colegas americanos apoiadores
de Trump, serem classificados como “irritados”, “fartos de políticos” e, em
alguma medida, “majoritariamente brancos”. A baixa escolaridade, no nosso caso,
é comum a todas as classes e segmentos sociais, portanto cabe a qualquer
lado.
Já os apoiadores do governo, misturam algumas dessas
características, com a devoção, sendo muito mais avessos a dados, informações e
constatações sobre suas lideranças, exemplo mais do que bem acabados dos
chamados “eleitores simplificadores”, que se fazem crescentemente presentes em
tempos de incerteza e ansiedade social. Fazem política, como seus adversários,
sendo apolíticos, pois a política jamais entra em uma discussão real nesses
grupos.
Um bom exemplo disso ocorreu ontem, em ato
teoricamente de comemoração do Dia da Mulher, na avenida Paulista, no centro da
cidade, quando uma militante do PSOL, apossando-se de um megafone mandou um
“fora Dilma, Temer, Aécio, Cunha, Alckmin” e mais alguém que não lembro agora.
Foi o suficiente para ser chamada de vagabunda e outros atributos, pela turma
que tinha ido lá prestar solidariedade a dona Dilma, com direito a safanões e
ameaças de parte a parte. Pelo menos o pessoal da Dilma era a favor de alguém, ainda
que partidários eloquentes de samba de uma nota só: não vai ter golpe, Dilma
fica”. Uns e outros não discutem, não conhecem, nem tem interesse por nenhum
dos dados que compõem a realidade brasileira hoje e vivem felizes com suas
simplificações.
O fato é que não são específicos de um lado ou de
outros, de determinados países ou tendências políticas. São um fenômeno global,
uma tendência perigosa.
No caso específico de Trump, considerando o poder de
um presidente dos EUA, certamente uma possível vitória sua é algo assustador, a
pior encarnação dessa tendência, dada a letalidade que uma administração em
suas mãos pode provocar no mundo inteiro, mas em termos mais restritos, como
por exemplo, no caso brasileiro, podemos ter mais do que uma década perdida, se
esse tipo de eleitor vier a, efetivamente, dar as cartas no processo político,
seja ele de esquerda ou de direita.
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