NAO A DEMOCRACIA
Seria
bom que a moçada, contra ou a favor do impeachment ou do golpe, conforme as
preferências, atentasse, por um minuto que seja, para a insatisfação dos
brasileiros com a democracia. Nada menos que 49%, a metade praticamente da
população, revelam-se “nada satisfeitos” com a democracia.
É o maior índice desde 2008, quando o Ibope começou a medir a satisfação dos
brasileiros com o nosso regime. Somam-se a estes outros 34%, que se dizem “pouco
satisfeitos” com o sistema democrático. É uma maioria, mais que
absoluta, com um pé atrás quanto a avaliação da nossa democracia.
Vale
ressaltar ainda que só 40% concordam com a frase: “a democracia é preferível a
qualquer outra forma de governo”. Mas, por outro lado, ainda que 34% concordem
com a frase que “para as pessoas em geral, dá na mesma se um regime é democrático ou não”,
vale a boa notícia: a fatia dos simpatizantes com o totalitarismo diminuiu. A
concordância com a frase “em algumas circunstâncias, um governo
totalitário pode ser preferível a um governo democrático” saiu dos 20%
em 2014 para os 15% atuais. E isso certamente não se deve ao método cusparadas
criado pelo deputado Jean Willys, na sua luta incansável “contra” o seu fiel
parceiro Jair Bolsonaro, o defensor mor do regime militar.
O
que isso significa afinal? Na real é que os brasileiros estão pouco
preocupados, ou quase nada preocupados, com o regime democrático. A democracia
não é valor, porque ela não é – de fato – exercida plenamente pela maioria
absoluta da população. Ela não se sente atendida, assistida, integrada,
beneficiada por esta tal de democracia.
Culpa de quem, perguntará, certamente, o caro leitor. De todos,
indistintamente penso eu. Em primeiro lugar dos políticos, que tanto falam na
dita cuja, mas não levam ninguém a almejar por ela. Culpa da própria sociedade,
cujos políticos, goste-se ou não, são espelho. Imperfeitos até que sejam.
Concordemos. Mas espelhos.
Vivendo
em meio a uma crise político-econômica, sem precedentes na história recente do
país, as preocupações definitivamente são outras. A ditadura não está na lembrança
dos mais jovens. Ou melhor, só está na lembrança dos mais velhos. Boa ou má,
tanto faz. É coisa do passado, infelizmente. A nossa questão é que não temos
perspectivas de futuro. O dia a dia das pessoas está voltado para a resolução
dos seus problemas imediatos. Vivemos num salve-se quem puder. Difícil estar
entusiasmado com este ou aquele regime, se o regime não nos nutre, afinal. Se
deixa todo mundo na mão... por que exalta-lo?
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