ABSTENÇÃO: PROTESTO OU DESINTERESSE?
Com um dos maiores índices de abstenção registrado nessas eleições, não são
poucas as análises sobre o seu significado. Pra começar é bom lembrar que entre
os milhões que preferiram não votar estavam os dois últimos presidentes, Lula e
Dilma,
um fato assaz
curioso, mas que não mereceu muita atenção da mídia. Lula alegou que tendo
ultrapassado a barreira dos 70 anos não estava mais obrigado a comparecer às
urnas e a Dilma foi visitar um parente adoentado fora do seu domicílio
eleitoral.
Protesto, desinteresse ou puro desânimo pela intuição dos resultados? Além
da abstenção, chamou a atenção a quantidade de votos brancos e nulos: 14,3% dos
eleitores, que foram às urnas, deixaram de escolher candidatos, nesse segundo
turno. O maior número desde 2004.
O mais provável, para explicar tanto os votos anulados quanto a
abstenção seja, realmente, uma mistura de voto de protesto com desinteresse
pelos resultados. Há um profundo desencanto com os políticos e a política que termina
por se expressar através dos votos brancos e nulos. Existe ainda a lenda que,
no caso do número de votos nulos e brancos superar o dos votos dados ao
candidato vencedor, as eleições seriam anuladas o que não corresponde a
verdade. Só os votos válidos são considerados.
Mas sejam lá quais forem os motivos, o expressivo número de brancos e
nulos deveriam fazer com que políticos e afins se preocupassem com o assunto e
procurassem por melhores explicações para o fenômeno. Quanto aos eleitores
convém pensar melhor. Votando nulo e/ou branco terminam por facilitar a eleição
de pessoas que não representam a maioria do eleitorado e depois não dá para se
arrepender. Vão ter que esperar por mais quatro anos para tentar uma
alternativa melhor de governança.
Já os números da abstenção merecem mais cuidado, uma vez que o cadastro
do TSE não prima, exatamente, pela atualização. Neles podem estar embutidos os
eleitores que morreram, os que mudaram de cidade sem recadastrar o titulo,
entre outros que podem estar inflando os números, que em tese deveria ficar em
cerca de 10%, mas nessa eleição chegou ao dobro.
Mesmo levando em conta essas possibilidades, o número de eleitores,
neste segundo turno, que deixou de escolher um candidato impressiona. Foram
nada menos que 32,8%, ou seja um em cada três eleitores cadastrados desistiu de
votar.
MAIORIA É CONTRA O VOTO OBRIGATÓRIO
Uma pesquisa recente do Ibope pode, talvez, ajudar a compreender este
“fenômeno”. Desde 2010 cresceu de 51% para 54% a taxa dos que são contra o voto
obrigatório. Embora haja um temor de que, com o crescimento dos votos nulos e
brancos e o fim da obrigatoriedade de votar cresça o risco da legitimidade, já
que, pelo menos teoricamente alguém poderia ser eleito pela minoria das
minorias, vale lembrar que a mesma pesquisa do Ibope revelou que nada menos que
62% dos brasileiros estariam dispostos a votar mesmo que não fossem obrigados.
É preciso levar em conta, ainda, que voto de protesto (em geral
representado pelos brancos e nulos) não tem a mesma origem, não têm a mesma
motivação da abstenção. José Roberto de Toledo, chama a atenção, em uma análise
sobre a pesquisa do Ibope, publicada no jornal Estado de São Paulo, que
provavelmente, baseando-se no perfil de que diz que compareceria à urna mesmo
sem ser obrigado, é provável que candidatos e partidos com eleitorado mais
escolarizado, menos pobre e concentrado nas pequenas cidades se sairiam melhor.
Na pesquisa, pra confirmar a tese, sobre quem mais perderia com o fim do
voto obrigatório, 62% dos petistas dizem que votariam mesmo se não fossem
obrigados, contra 72% dos que votam no PMDB e nada menos que 79% dos tucanos.
O que fica claro é que a abstenção pode acolher os dois lados: os
decepcionados com a política em geral, que sequer se sentem motivados a votar e
aqueles que desejam mandar um recado aos políticos em geral, expressando a sua
indignação e protesto com a ausência.
Resta a classe política compreender o que se passa e arregaçar as mangas
para provar a esses eleitores que vale não só ir às urnas, mas também votarem em fulano ou
sicrano. A ver se entenderam de fato o recado do eleitorado.
Comentários
Postar um comentário