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Futuro incerto com ele |
Interpretações e comentários mil pululam
em tudo quanto é mídia internet incluída, sobre a “surpreendente” eleição de
Donald Trump. Por isso vou ficar restrito, aqui, no meu canto, a duas questões
que me interessam mais de perto, antes que Donald Trump chocalhe o mundo, com
consequências imprevisíveis.
A primeira é o que se convencionou
dizer que praticamente ninguém atentou para a existência e a força do eleitorado
trumpista, incluindo aí os institutos de pesquisa, e que a sua vitória pegou o
mundo de calças curtas. Além disso, seria uma sinalização clara de uma
reviravolta do eleitorado americano, que teria optado, de forma significativa,
pelo populismo demagógico de Trump.
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Institutos: erros e acertos. |
A segunda, que nos interessa, mais
de perto, é a revelação de que existe, em toda as regiões do Globo, um
contingente significativo de pessoas que se sentem marginalizadas do processo
econômico/social dos seus países e está muito, muito mesmo, decepcionada com a
política tradicional, disposta a depositar as suas esperanças em qualquer
populista/demagogo que lhes acene com novas oportunidades de emprego e melhoria
de vida.
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O Democrata vai ter que se reinventar |
O que não foi
detectado a tempo foi a estranhíssima intervenção do FBI no processo, que
alardeou poucos dias antes da eleição, a possibilidade de uma nova investigação
sobre o uso de e-mail particular, por parte da Hillary, para tratar de questões
de Estado. E, não menos importante, que também não foi considerado pelos
institutos, foi o comparecimento menor às urnas e o uso de telefones fixo, para
entrevistas, que poucos ainda usam, além da utilização, quase obsessiva, de
projeções sobre os indecisos. Resta ainda a impossibilidade, com os métodos
atuais, de detectar o chamado “voto envergonhado”, daquele eleitor que está
decidido a votar em um determinado candidato, mas não revela a sua opção.
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La Pen ganha força na França |
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Rússia e Turquia o trumpismo no poder |
O voto popular deixou claro, no
entanto, que um contingente muito significativo, de eleitores “comprou” as
ideias de Trump. Milhões de americanos, que servem, no mínimo, para chamar a
atenção da para outros bilhões de pessoas, em todo o mundo, que se sentem
órfãos das promessas de prosperidade global, consideram-se explorados por um
sistema que não lhes deu perspectivas de uma vida melhor, pelo contrário, em
muitos casos, lhes tolheu os sonhos. Essa gente, desencantada inclusive com a
democracia representativa, que não a escuta como deveria, volta-se para líderes
“fortes”, ostensivamente contrários ao sistema. Nada de novo. Basta olhar para
a Turquia e a França, por exemplo, com Tayyip Erdogan e Marine Le Pen. É claro
que a inclusão dos Estados Unidos neste cenário de populismo complica em muito
as coisas.
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Brasileiros fãs de Donald Trump |
E no Brasil? Quantos estão
enquadrados nesse grupo de cidadãos desencantados com o establishment? É
possível que a alta na abstenção,
registrada nas últimas eleições municipais, nos dê alguma pista. Alguns
fatores para a formação desse contingente são claros: o desencanto com a classe
política, que teima em ignorar os anseios dos excluídos, antigos e novos, a
crise econômica, que nos brindou com um número escandaloso de desempregados, e
toda uma classe que sentiu a possibilidade de ascender socialmente e se viu
retornando, na melhor das hipóteses, ao patamar antigo em que se encontrava. E
pior: endividada.
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Bolsonaro, fazendo de Trump o seu herói. |
E aí vem mais uma pergunta, nesta
confusão planetária, na qual estamos todos incluídos, cada qual com seu cada
qual, temos um Donald Trump capaz de liderar esses descontentes? Ok, a primeira
lembrança cai para Jair Bolsonaro, que também se acha. Eu acredito que ele
ainda está muito longe de um Trump, mas é bom não esquecer da eleição do
Collor, o tal de “caçador de marajás”, que – com um exíguo tempo no horário
eleitoral gratuito – desbancou um dos maiores contingentes de candidatos, formado
por políticos experimentados, os pesos pesados da política nacional, como nunca
se tinha visto, até a humilhação final, que foi a derrota acachapante sobre Lula,
no segundo turno.
Falta muito a Bolsonaro, mas é
sempre bom lembrar, também, que é preciso apenas um pouco de vento a favor,
para impulsionar o barquinho de personagens esquisitas e carta aparentemente
fora do baralho. A história, antiga e recente, está aí, cheia de exemplos. E se
a política continuar a esquecer essa parcela, cada vez mais importante da nossa
população, podemos contar com surpresas a lá Trump. E pode ser bem mais rápido
do que podemos imaginar.
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