MARIANA: 1 ANO. E VEM MAIS TRAGÉDIAS POR AÍ.
Foi em 5 de novembro, do ano
passado, que a barragem do Fundão rompeu, derramando 35 milhões de m3 de “lama”
em uma área de 700 km, deixando desabrigadas 1.500 pessoas, 18 mortas e uma
desaparecida. 27 cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo foram prejudicadas
na economia e no abastecimento de água. E pior: ainda hoje, um ano depois, a
lama da barragem continua a tingir de marrom o Rio Gualaxo do Norte, que
deságua no Rio do Carmo e segue tragicamente até o Rio Doce e o oceano
Atlântico.
Sabe-se hoje que existem cerca de
500 mineradoras, operando do mesmo jeito irresponsável da Samarco. Metade delas
em Minas Gerais. São tragédias anunciadas. E ao que tudo indica o triste
exemplo de Mariana pode se repetir, já que nossas autoridades primam pela
lerdeza e falta total de senso de justiça.
O que se assiste hoje é o já
conhecido jogo de empurra e faz de conta, entre a empresa, que provocou a maior
tragédia ambiental do país, e as autoridades e demais órgãos públicos envolvidos
direta ou indiretamente com o drama. Com o agravante da discriminação que os
moradores de Bento Rodrigues, em Mariana, passaram a sofrer, como se fossem
eles a causa da tragédia que atingiu o município.
Nada a rigor foi feito até agora,
para resolver, em definitivo a situação das vítimas, que sobrevivem a base de
um cartão de débito fornecido pela Samarco, cujo limite é de um salário mínimo.
E pior – sempre tem – descobriu-se agora, que uma barragem emergencial, para
conter o vazamento da lama, na verdade de emergencial não tem nada e já estava
nos planos da Samarco, mesmo antes do rompimento de Fundão.
Na justiça descobriu-se, também,
algo estarrecedor, para dizer o mínimo: a Samarco tinha em seu poder um
documento, que narrava com riqueza de detalhes a possibilidade real do
acidente, que terminou ocorrendo, e não tomou sequer uma medida preventiva. Até
o número de prováveis mortos 20 – erraram por apenas duas vítimas – consta do
relatório atualmente em poder do judiciário. Estarrecido com as minúcias do
documento, um promotor declarou que parecia ter a empresa uma bola de cristal,
tal a quantidade de acertos do relatório revelados pela tragédia.
Cruel também tem sido a relação das
vítimas com pessoas que não foram atingidas diretamente pelo rompimento da
barragem. Seus filhos são chamados de “pés de lama” nas escolas e, até quando
fazem compras, recebem olhares e frases discriminatórios ao apresentar seus
cartões de débito fornecidos pela Samarco. São acusados até de estarem se
aproveitando do ocorrido para extorquir dinheiro e levar alguma vantagem.
Os problemas, causados pela Samarco
vão bem além de Mariana. No Espírito Santo, na orla que um dia esteve cheia de
turistas, ninguém aparece mais. Pousadas, negócios, a economia das vilas e
pequenas cidades foram paralisados. E ninguém foi ressarcido pelos prejuízos. E,
ainda que fossem, continua valendo a pergunta de um pescador feita a repórteres
de um programa de TV: quem paga pelo fim de um sonho? Quanto vale um sonho
destruído por alguém?, ao relatar que teve de retirar os dois filhos da
faculdade, onde estudavam, por não conseguir mais pagar as mensalidades,
impedido que está, há um ano, de trabalhar no que era a sua principal fonte de renda, a pesca.
A punição, severa, dos responsáveis,
talvez venha ainda aconteça, sabe-se lá quando. A reparação econômica e social
das vítimas da tragédia anda a passos de tartaruga, que aliás também foram
atingidas em seus locais de desova, lá longe de Mariana, nas praias do Espírito
Santo. A lição de Mariana talvez ainda venha a ser aprendida e novas tragédias
sejam evitadas. Queira Deus que com o tempo tudo isso, toda essa tragédia e
suas consequências não sejam esquecidas.
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