NOEL E EU: VERDADES E MENTIRAS.
Confesso
que sou incapaz de lembrar, exatamente, como foram as descobertas, por parte da
minha prole, da inexistência do “bom velhinho”. Os mais velhos certamente foram
vítimas da minha fase comuno-stalinista, que graça a Deus, foi relativamente
curta, apesar do entusiasmo “à causa”, que me rendeu inclusive um apelido,
usando ainda por antigos companheiros, de Béria, o temível chefe da polícia
política de Stalin. Mas lá vou eu derivando.
Como avô e
“dindo-avô”, deparo-me, depois de muitos anos, novamente, com a dúvida: é
certo, ensinarmos, ainda que de forma indireta, que as crianças não devem
mentir, ao mesmo tempo em que admitimos que elas podem ser enganadas e que
adultos, não devem ser enganados, mas podem mentir?
Dito assim
parece algo capaz de influenciar caráter e moldar existências, mas olhando
para trás nenhum dos meus filhos cresceu melhor, ou pior, por conta da “lenda”
sobre Noel e, ainda que imprópria data, acrescento o Coelhinho da Páscoa.
O meu neto acredita,
ainda, em Papel Noel, seus duendes e renas. Inclusive, preocupado com o
trabalho insano do “bom velhinho, circulando pelo mundo a distribuir presentes,
teve o cuidado de pedir que os pais preparassem um “gagou” para o dito cujo.
Não tenho certeza se um lindo exemplo de solidariedade, com quem lhe traz
presentes, ou uma artimanha para ficar bem com o Noel e, com isso, ampliar suas
chances, quantitativas e qualitativas, de ganhos.
Hoje, livre
das obrigações de educando, deixo para os pais e mães agirem como acharem
melhor e danço conforme a música. Na verdade não dou tanto bola para essa
questão, da verdade ou mentira, sobre a existência do Noel, assunto que
inspirou até mesmo ao antropólogo Claude Lévi-Strauss, que publicou um ensaio, Papai Noel Torturado, na revista Temps
Modernes, em 1952, referindo-se ao linchamento, de um boneco representando
Noel, promovido por religiosos, em frente a catedral de Dijon, no ano anterior.
A
existência de Noel é só uma lenda. Acreditar, ou não, duvido que molde caráter ou que influencie vidas. Lembro que deixei de acreditar no dito
cujo, quando, já muito desconfiado da lenda, fingi que dormia para dar um
flagrante no meu pai de criação. E que fingi também, que nada tinha descoberto,
premiando ainda por alguns anos, o seu esforço em me premiar com sonhos.
Lembrei
disso tudo ao conversar com o meu neto, que me relatou estar um
dos duendes do Papai Noel doente, razão pela qual, segundo lhe explicou o “bom
velhinho” em carta, não será possível entregar os presentes solicitados, ainda
que – esforçando-se – explicou tenha conseguido outros similares. Desconfio que
o nome deste camarada seja, na verdade, Papai Noel Temer Lula da Silva.
Eu de toda
essa história, como avô e, em breve, dindo-avô, espero apenas continuar
partilhando com as crianças da minha vida suas fantasias e sonhos. Não consigo
pesar em presente melhor para pedir ao Papai Noel, neste Natal.
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