ANÚNCIOS IMOBILIÁRIOS: UMA ARQUEOLOGIA CONTEMPORÂNEA.

Descobri com imenso prazer outra pessoa que vê nos anúncios imobiliários uma oportunidade de "estudar" como vive o homem moderno e fazer um paralelo entre o neolítico, tempos antigos e os atuais. Marcelo Rubens Paiva escreveu um excelente artigo no Estadão do último sábado sobre como é interessante investigar os anúncios imobiliários e descobrir as similitudes do modo de viver atual com o nosso passado.

Quando saímos do mundo neolítico para o mundo agrícola o homem morava perto do trabalho. Foi assim que nasceram as primeiras cidades. O homem começou a construir seus abrigos cercado por aquilo que o alimentava, inicialmente o trigo selvagem e a proximidade com as fontes de água. E, para proteger-se, ergueu muros, cada vez mais fortes, mais altos, mais sofisticados. Não existem semelhanças com o mundo moderno?

O que se anuncia atualmente? A união, no máximo possível, entre a moradia, o trabalho, o lazer. Bom e a alimentação? Para isso temos o delivery. Para o lazer, a internet e os clubes privê, tudo bem protegido, dentro dos muros dos condomínios fechados. Até a educação já pode ser à distância.

Temos enfim, as nossas e novas megacavernas. Os condomínios modernos estão sendo planejados para que as saídas sejam as mínimas possíveis. Tudo, ou quase tudo, pode ser feito dentro dos seus muros, onde a máxima é o máximo de segurança.

De vez em quando, pegam as suas SUVs, de preferencia blindadas e lá se vão para uma voltinha nos shopping centers, outra caverna gigante. Sim, estamos falando de uma parcela da população, é óbvio.
Aquela que vive agora nos "condominios resort".

Prédios não se chamam mais prédios, agora todos são torres (não tem algo meio medieval isso?). Não possuem lagos, com ponte levadiça, mas estão cercados por muros, a maioria com cerca elétrica para completar e portarias (porta cochère, como se diz agora), com os mais modernos aparatos para manter bem longe os não moradores. O número de quartos diminuiu, mas aumentou o número de vagas na garagem. As varandas não são apenas varandas mas áreas de lazer. Menos quartos, com pelo menos um deles substituído pelo "escritório". A "informatização" abrange todos os cômodos e áreas do condomínios fechados. É possível estar conectado, vigiar, administrar até mesmo as cortinas e trabalhar de qualquer sítio. As cavernas estão cada vez mais protegidas e vigiadas.

Vale ou vale um estudo sociológico?

Obrigado Marcelo Paiva por descobrir que não estou sozinho nessa maluquice pseudamente acadêmica. Se você também curte isso (rsss) recomendo o artigo do Rubens Paiva: Estadão, sábado, 16 de novembro, Caderno 2, página C9.

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