COMO A ANALYTICA USOU O FACEBOOK PARA INFLUIR NAS ELEIÇOES DOS EUA


Sob investigação da Comissão de Comércio dos Estados Unidos, chega ao fim a parceria do Facebook com a Cambridge Analytica, que usou dados obtidos através do Face, sem autorização dos usuários, para influir na campanha de Donald Trump à Presidência, entre outras estripulias. O Face expulsou a Analytica da sua plataforma, mas enfrenta repercussões negativas econômicas, sociais e políticas. Suas ações caíram vertiginosamente nas bolsas mundo afora e a credibilidade do Face foi golpeada de forma quase mortal.

A história toda, digna de uma boa série de TV, teve o seu começo com a Global Science Research, uma empresa fundada por Aleksandr Kogan, de Cambridge, pesquisador nascido na Rússia e criado em Nova York.

Interessado em análises de comportamento, Kogan criou um aplicativo de Facebook, que colhia informações sobre quem usava o Face e seus contatos. Estima-se que algo em torno de 50 milhões de pessoas tiveram seus dados e comportamentos, opiniões, ideias e contatos, recolhidos e analisados.

Esse tipo de pesquisa era permitido pelo Facebook, desde que usada para fins acadêmicos. Mas os dados obtidos por Kogan acabaram sendo usados com interesses políticos e seguramente os perigos de uma coleta de tantas informações foi minimizados. Toda os dados foram vendidos para a Strategic Communication Laboratories, de onde surgiu a Cambridge Analytica.
Tudo sobre os gostos, preferências e comportamento dos americanos foram usados para criar modelos de potenciais eleitores e usar seus sentimentos, principalmente os relacionados com seus “temores” para a criação de mensagens publicitárias, devidamente personalizadas através, justamente, do Facebook.

Tudo isso só veio à tona através de Christopher Wylie, um ex-funcionário da Cambridge, que denunciou toda a trama para a mídia e as autoridades.

A ferramenta desenvolvida é muito mais poderosa do que se pode imaginar e exige a utilização de recursos muito grandes, para que essa incrível quantidade de informação possa ser copilada e utilizada com objetivos bem definidos. É bobagem imaginar que ela possa ser utilizada por qualquer um, mas é capaz de promover grandes alterações no cenário político de países importantes, como foi nos Estados Unidos e – suspeita-se agora – em outras eleições e referendos, principalmente na Europa e mundo afora onde se revelou interessante.
São dados relevantes ao extremo, que poucas pessoas ou associações tem cacife ou mesmo interesse, obviamente escusos e manipulares, para utilizá-los.

A capacidade da “ferramenta” de refinar informações, chega a detalhes como cor das pessoas com as quais se pretende interagir, com detalhes dos seus hábitos de consumo, onde mora,  trabalha, ideias que compartilham e muito mais, ao ponto de ser considerada por forças de segurança de vários países, alertados pelas suas potencialidades, como uma verdadeira ferramenta de guerra.

Com o escândalo público a sobrevivência da Cambridge Analytica é altamente improvável.  Grandes empresas do mundo inteiro, temerosas das possíveis consequências começam a revisar suas politicas de privacidade, limitando as informações que possam eventualmente serem repassadas a terceiros. Mas o fato é que cada vez que publicamos uma imagem, marcamos um amigo numa postagem, acessamos alguma página, exprimimos uma ideia, os nossos dados em mãos do Facebook ou Google, os maiores, por exemplo, são armazenados e manipulados em algum sítio. É  fácil de perceber quando começamos a receber centenas de “informes publicitários” que parecem ter sido criados, sob medida, para atender aos nossos desejos e interesses. É o que acontece nas redes sociais. É o normal.

O que precisamos começar a pensar é se também, todas essas informações, armazenadas e manuseadas a nossa revelia, e utilizadas para fins comerciais, é algo lícito e correto, ao contrário das utilizadas para vender ideias e pessoas.

Em um artigo publicado em El Mundo, onde disseca toda esta operação entre o Facebook e a Cambridge, Sergio Rodríguez, acredita que a única forma de evitar que esse tipo de coisa volte a acontecer é “colocar a ética em primeiro lugar e dar aos cidadãos o controle dos seus dados”, seja na política ou nas atividades comerciais, acrescento eu. Mas na verdade, grandes dúvidas e muitos temores ainda estarão pairando sobre todos nós, que habitamos também no mundo digital.

Vai levar ainda um bom tempo até que a sociedade crie mecanismos mais eficientes de controle sobre essas grandes corporações, resguardando os nossos dados e evitando as manipulações criminosas, como as levadas às últimas consequências pela Cambridge Analytica, com a complacência do Facebook.

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