IMPUNIDADE/LINCHAMENTOS/MASCARADOS/“TERRORISMO”/TRAFICANTES/MILÍCIAS/AUTORIDADES PERPLEXAS E DEMAGÓGICAS: ESSE CALDO VAI FERVER.


O tal de tecido social brasileiro está se esgarçando, com um crescente rompimento do contrato social. A insegurança permeia todas, insisto, todas as tais de classes sociais – e só os tolos acham que os “pobres” ou a tal de classe D se sentem seguros ou são, todos, tendentes à contravenção. As polícias, civil ou militar (outra excentricidade exclusivamente brasileiras, essa divisão)  legitima jabuticaba nacional), despreparadas para tudo, só sabem enfrentar a bandidagem na base do enfrentamento direto, no qual sai perdendo na maioria das vezes.  E a cínica sociedade brasileira nada faz para melhorar o desempenho das forças policiais, assim como nada faz para melhorar as condições dos presídios, preferindo o discurso demagógico de justificar certos delitos, pela condição social, ou – pior – partir para fazer justiça com as próprias mãos, espancando supostos (ou comprovados) bandidos.

 

No Brasil pega bem espinafrar a polícia, que deveria se comportar à inglesa, quando a bandidagem de inglesa não tem nada. A ausência do Estado nas favelas do Rio (perdão comunidades) – até hoje – deixou campo fértil para que tudo quanto é tipo de contraventor nelas se instalassem, explorando descaradamente a honesta população que vive nessas áreas. Já nos acostumamos, mas só em países em clima de guerra, civil ou não, tem forças de segurança disputando territórios como vemos cotidianamente no Rio de Janeiro.

A crescente insegurança gera pressão por repressão desmedida. Só os tolinhos, esquerdinhas, todos da classe média bem segura, acreditam que as pessoas comuns estão dispostos a viver muito tempo nesse clima. Pessoas comuns, não importa a classe, ou melhor, quanto mais “baixa” a classe, é essencialmente meritocrática. Não quer ser assaltada enquanto luta pelo transporte ruim para ir e voltar para o trabalho (quem não trabalha é vagabundo). Quer as coisas básicas da sociedade de consumo, como casa, comida, acesso a um mínimo de diversão, tomar umas cervejas, salão de beleza, filhos na escola, equipamentos de saúde com – no mínimo – pouca  fila e vai por aí. E não está disposta, nem que a vaca tussa, a abrir mão de suas conquistas. E se a sociedade não der um basta na bandidagem vão reagir por conta própria e sair batendo em ladrões por aí. Acredite.

E nossas autoridades? Como sempre no mundo da lua. Firmaram o conceito, sabe-se lá de onde tiram essas ideias, de que pequenos delitos são fruto exclusivamente da pobreza e – por via de consequência – devem ser aliviados, mas ao mesmo tempo enchem os campos de concentração, chamados de presídios, de muita gente que nem deveria estar lá. Sem saber o que fazer com os vagabundos que vandalizam nas legitimas manifestações, clamam por leis contra o “terrorismo”, como se quebrar vitrines fosse ato de terror, ao mesmo tempo que acreditam ser legitimo o sujeito ir pra ruas de máscara, por outro motivo que não seja o de transgredir. Fecham os olhos ao tráfico de drogas, tecendo loas aos programas, em geral ineficientes de apoio ao viciados, enquanto as quadrilhas continuam fazendo milhões vendendo, às claras, suas mercadorias. 

Milhões de brasileiros, nos últimos anos (tá palmas para os governos e não se fala mais nisso) ascenderam socialmente. Adquiriam bens e querem mais. Nada mais legítimo. E atentem autoridades: não querem ser ameaçados, muito menos surrupiados os bens adquiridos tão duramente, mesmo se com a ajudinha das mesadas governamentais. E quando a grande massa da chamada classe D finalmente alcançar os padrões de consumo da classe C, vai querer as mesmas coisas: uma vida tranquila, pautada por rotinas normais de trabalho, lazer, consumo, escolas, férias, filhos seguros e por aí vai. E quem ficar na frente vai apanhar. Para usar a linguagem e modos que se insinuam correntes, vai ser linchado, seja o ladrão solitário ou as instituições estabelecidas. Esse caldo vai ferver. E a vida então, o nosso cotidiano, será muito doido, muito violento e provavelmente, muito breve.




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