O JUDICIÁRIO TAMBEM PRECISA DE FREIOS
O entusiasmo com o Judiciário, com
uma parcela do Judiciário convém ressaltar, é fenômeno recente e necessitado,
urgentemente, de moderação e critérios. Alçados a categoria, sempre perigosa, de
"salvadores da pátria", juízes e promotores públicos, agem como se não tivessem
satisfação alguma a prestar à sociedade e aos demais poderes, legalmente
constituídos, goste-se ou não da turma que os compõem.
Só os mais tolos, ou mal
intencionados, são capazes de acreditar que um judiciário fora de controle é
algo sadio para a nossa sociedade. Vivemos atualmente sob o pré julgamento onde, muitas vezes,
se julga e se pune ao sabor dos vazamentos e dos encantos da mídia. Todos são suspeitos,
todos, de uma forma ou de outra, são culpados, com a exceção honrosa dos membros do Judiciário.
O que está acontecendo é que – com
base no vazamento seletivo e organizado – de delações premiadas e fatos relacionados às
investigações em curso, o Judiciário age e influencia no agravamento da crise, tendo como base
unicamente a “reforma moral” do País, ao mesmo tempo em que se constituem numa
casta de intocáveis, que vai se sobrepondo ao sistema político institucional.
Vamos logo deixar claro: a ladroagem
precisa ser investigada e punida, exemplarmente, inclusive, mas o Judiciário não
pode tomar o poder de assalto, desestabilizando todas as demais instituições,
sem a menor disposição/intenção de fazer os sacrifícios que vão sendo impostos a todos
os demais setores da sociedade.
O vazamento seletivo, seja das
delações ou do andamento de processos e investigações não é espontâneo nem ocasional. É
organizado e tem objetivos. O Judiciário não pode ter a pretensão de estar
acima e imune a tudo, se comportando como se tivesse alguma missão a cumprir.
Não. Cabe aos membros do Judiciário apenas cumprir a Lei. E deve começar, ou
terminar, não importa, desde que rápido seja, pela própria casa. Basta ver as últimas interferências da Suprema Corte em questões exclusivamente da alçada do Congresso. E sim, sabemos da estatura moral do atual Congresso, mas ainda assim, é preciso preservar os limites e atribuições de cada um dos poderes, pois em caso contrário mergulhamos na anarquia generalizada, o caminho fácil para a implantação de regimes de exceção.
É verdade que a anarquia, e a
desonestidade, sem paralelo, do nosso "presidencialismo de coalizão", levou os partidos e outros poderes da República, virando nada mais, nada nada menos, que
centrais de negócios, na sua maioria absolutamente escusos. Mas isso não autoriza os membros da toga a tomarem conta do País, ignorando – e aí está o ponto de maior
gravidade – as graves questões econômicas e sociais, já que, inclusive, um projeto para resolver essas questões não possuem, nem é o caso, centralizados que estão, ao menos aparentemente, na “reforma moral”.
É preciso que a sociedade apoie e
continue dando força ao combate a corrupção, mas que não extrapole esse apoio
para um endeusamento do Judiciário e, especialmente, de alguns dos seus
representantes, alçados a categoria de santos e de únicos pilares da moral, da
justiça e da ordem pública.
Queremos Justiça, mas não desejamos
uma ditadura da toga. Isso precisa ficar claro. E já.
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