MAIS DE 20 CANDIDATOS A PRESIDÊNCIA. E VOCÊ, JÁ TEM ALGUM PARA CHAMAR DE SEU?


Quantidade igual, ou melhor, parecida, só na eleição de 1989. Foram 22, mas  poderia chegar a 23, com a quase participação do Sílvio Santos. Diferentemente desta, estavam presentes os pesos pesados, da época, da política nacional. As duas listas estão lá embaixo, para quem quiser dar uma espiada. Vale. Mas vamos a atual. Em primeiro lugar temos a novidade do candidato condenado pela Justiça, preso e com vários processos em andamento, liderar em todos os cenários de todas as pesquisas feitas até agora. E mais: com uma força razoável para indicar um “poste” qualquer, posição não muito honrosa, ocupada – neste momento – pelo ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.

Sem Lula, quem lidera o plantel do momento, com 25 concorrentes, é Jair Bolsonaro, seguido por Marina que cresce, chegando mesmo a empatar com Bolsonaro, em um dos nove cenários apresentados pela pesquisa do Data Folha, divulgada no último final de semana. Ciro Gomes também é beneficiado pela saída do ex-presidente, mas os dois, pelo menos por enquanto, perdem para os indecisos.

O que não falta, também, no grupo atual , são figuras interessantes, que ninguém, sabe ainda ao certo como se comportarão, entre eles o ex-ministro do Supremo, Joaquim Barbosa, que provavelmente irá para a disputa, mas ainda está na base do “talvez”, inclusive – segundo já se comenta por aí – fazendo uma dobradinha, no mínimo curiosa, tendo a Marina como vice, mas que já foi desmentida pela permanente candidata da Rede. Seria, realmente, uma chapa  incomum, caso de confirme, reunindo duas personalidades totalmente díspares.


O PT AINDA NO JOGO

Lula, que lidera com 30% a 31%, sofreu uma queda, nos seus índices após a prisão (na espontânea quatro pontos percentuais, em relação ao levantamento feito pelo Data Folha em janeiro deste ano). Bolsonaro fica entre 15% e 17%; Marina variando entre 10% e 16%; Joaquim Barbosa de 8% a 10%; Ciro Gomes de 5% a 9% e Geraldo Alckmin com 6% a 8%, fechando o grupo dos que pontuaram mais. Na rabeira, Manuela D’Ávila (2% a 3%); Michel Temer com 2% e Henrique Meirelles, Rodrigo Maia, Flávio Rocha e Guilherme Boulos fechando o grupo, todos com 1%.

Um dado interessante é que – se o PT começar a falar sério pode ainda influenciar, e muito, no jogo. Afinal, nada menos de 46% dos entrevistados revelaram alguma propensão a votar em um nome indicado por Lula, com 30% afirmando que fariam isso com certeza e outros 16% declarando que – talvez – votassem em alguém indicado pelo ex-presidente.  São números no entanto, que devem ser vistos com alguma cautela, já que a maioria dos entrevistados (54%) acha que a prisão de Lula foi “justa” e nada menos que 62% não acreditam mais na candidatura de Lula. Relevante também é o fato  de 32% do eleitorado do ex-presidente ter resolvido “dar um tempo”, afirmando que se as eleições fossem hoje provavelmente anulariam o voto ou votariam em branco. Ou seja, se o PT e Lula não mudarem de ideia a probabilidade de parte dos seu eleitorado se bandear para outras candidaturas é uma certeza, como indica a transferência, neste momento, para Marina e Ciro.

UM SEGUNDO TURNO EM ABERTO

Numa disputa com um número tão elevado de candidatos, alguma coisa em torno dos 20% pode levar qualquer um dos pretendentes à Presidência para um segundo turno. E aí, o exemplo da eleição de 89, se encaixa como uma luva, quando o azarão do Fernando Collor, superou todos os pesos pesados da época e foi para o segundo turno com Lula, que acabou, como todo mundo sabe, derrotado pelo “novo” de então. 

Um dado que merece atenção é o que se está convencionando chamar de “eleitor-pêndulo”, que aumentou consideravelmente depois da prisão de Lula. A intenção de voto dos grupos que namoravam os extremos (contrários e favoráveis ao ex-presidente) caíram na pesquisa e o voto menos radical cresceu. Esse é um eleitor que não é tão fiel ao  ex-presidente e não o rejeita, com o mesmo entusiasmo, da parcela hostil a Lula. É a turma que está “dando um tempo” na escolha de um candidato, afirmando, por enquanto, que votaria nulo ou em branco.

EXTREMA ESQUERDA E EXTREMA DIREITA NO PÁREO

Outra característica desta eleição é termos, bem representados, todo o espectro político, indo da extrema direita a extrema esquerda, mas com um bom número de candidatos tidos como centristas. Na anterior, de 1989 acontecia algo semelhante, mas não tão declaradamente como nesta.

E mais: com tanta gente participando, alguns dos “nanicos” (tem gente de conteúdo, como o Amoedo do partido Novo, por exemplo), que pode surpreender, chegando ao segundo turno, bastando para isso, como já vimos, algo em torno dos 20% dos votos.  E aqui vale relembrar novamente a eleição de 89. Fernando Collor, com um tempo ínfimo no primeiro turno, passando à frente dos demais concorrente e indo para o segundo turno.

É claro que – por enquanto – tudo não passa de tendências do momento. Muita água ainda vai rolar por baixo dessa ponte. Uma certeza é a influência que Lula e o PT irão exercer nesse pleito. O volume dessa influência ainda não dá para mensurar, mas a influência é certa. No mais, é bastante provável que – no momento em que esta campanha comece de verdade (ainda que tardiamente, pois faltam apenas seis meses) – as intenções de voto se solidifiquem. E, provavelmente, o discurso menos radical tenderá a atrair mais eleitores.

DE OLHO PARA CHAMAR DE SEU

De qualquer sorte é o momento para começar a olhar a turma de pretendentes, com um olhar mais atento, e iniciar ao menos um namoro com aquele que finalmente cada um dos eleitores poderá chamar de seu.

Veja aqui a lista.
Afif Domingos (PSD); Álvaro Dias (Podemos); Cabo Daciolo (Avante); Ciro Gomes (PDT); Cristovam Buarque (PPS); Eymael (PSDC); Fernando Collor (PTC); Flávio Rocha (PR); Geraldo Alckmin (PSDB); Guilherme Boulos (PSOL); Jair Bolsonaro (PSL); João Amoedo (Novo); João Vicente Goulart (PPL); Joaquim Barbosa (PSB); Levy Fidelix (PRTB); Lula ou “candidato do Lula” (PT); Manuela D’Ávila (PCdoB); Marina Silva (Rede); Paulo Rabello de Castro (PSC); Rodrigo Maia (DEM); Rui Costa Pimenta (PCO); Suêd Haidar (PMB); Temer ou Meirelles (MDB); Valéria Monteiro (PMN); Vera Lúcia (PSTU)

A ELEIÇÃO DE 89

A comparação é relevante, não só pela quantidade dos candidatos, mas também pelo fato de suas especificidades: A primeira depois de um longo período de exceção (a atual é a primeira após um período extremamente tumultuado institucionalmente, com o impeachment de Dilma Rousselff). A de 89 foi primeira pelo voto direto do presidente da República, pós o que se convencionou chamar de “regime militar”. Foi uma eleição “solteira”, já que o único cargo em disputa era a Presidência. E a primeira também em que tivemos um segundo turno (mais semelhanças), instituído pela nova Constituição, aprovada no ano anterior.
A eleição de 1989 foi disputada por 22 candidatos - entre eles, Fernando Collor, Lula, Leonel Brizola, Mário Covas, Paulo Maluf, Ulysses Guimarães, Aureliano Chavez, Guilherme Afif Domingos, Roberto Freire, Ronaldo Caiado, Enéas e Fernando Gabeira.
O destaque estava em duas personalidades com projetos políticos antagônicos de propostas de mudança social. Lula, liderança sindical, participantes ativos dos moimentos pela redemocratização tinha sido eleito (em 1986) deputado federal com a maior votação até então obtida por um candidato à Câmara dos Deputados.
Do outro lado, o “caçador de marajás”, govenador de Alagoas pelo PMDB. Durante a ditadura foi membro da Arena e do PDS, legendas que davam a sustentação política aos governos militares. Em 88 deixa o MDB para se filiar ao nanico PRN para concorrer à Presidência, disputa em que recebeu o apoio da Rede Globo e dos setores conservadores assustados com o crescimento eleitoral de Lula. Collor obteve 53% dos votos válidos, contra 47% de Lula.
Os candidatos, que procuraram oferecer ao eleitorado uma terceira via não obtiveram êxito. Mário Covas o principal deles, tinha rompido com o PMDB e junto com FHC, José Serra e Franco Montoro, em 88 tinha fundado o PSDB, partido pelo qual concorreu. Ficou em quarto Lugar.
Entre os nanicos destaque para Enéas Carneiro, do Prona, que conseguiu uma boa repercussão para sua candidatura. Leonel Brizola foi o terceiro colocado e praticamente transferiu todos os seus votos do primeiro turno para Lula, numa demonstração inconteste de liderança entre seus eleitores. E Guilherme Afif Domingos, também presente neste eleição, “inaugurou” a então pouco conhecida “meme”, com um gesto feito com as suas mãos, que acompanhava o seu slogan: juntos chegaremos lá.

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