PESQUISAS SOB SUSPEITA
Em todo o mundo (rssss) levantam-se, creio que suspeita é uma palavra muito forte, questões (será melhor) sobre as mudanças no comportamento dos entrevistados, nas pesquisas de opinião, que varia – sensivelmente – se o entrevistador, aquele que faz as perguntas, é uma máquina ou um ser humano. Além, de obviamente, as sutilezas, a forma de fazer as perguntas.
Num
momento em que as pesquisas online, onde as perguntas – de forma geral – são
feitas através de uma máquina e através dela respondidas, essa é uma questão
relevante para o futuro das pesquisas de opinião.
Josh
Barros, do NYT, constatou essas divergências ao analisar o resultado de
pesquisas relacionadas a proposta de Donald Trump de proibir o ingresso de
muçulmanos sem cidadania americana nos EUA. Em seis pesquisas, feitas na semana
passada, três apontaram forte rejeição a proposta. Elas usaram pessoas para
fazer as perguntas por telefone. Houve variação, quanto a “força” da rejeição à
medida em que duas delas especificaram que a proibição seria temporária,
encontrando menos resistência a uma eventual aprovação da medida.
Nas
outras três, os entrevistados não falaram com uma pessoa. As pesquisas foram
feitas online, sendo que em um dos casos por gravações telefônicas. Nessas pesquisas
houve mais apoio e menos oposição à proibição.
Ariel
Edwards-Levy, do Huffington Post, segundo Barros, acredita que as máquinas
seriam responsáveis por dois efeitos. Um deles seria o de deixar os
entrevistados mais à vontade para expressar pontos de vista que poderiam ser
considerados inaceitáveis. O outro é que as pesquisas feitas por meio de
gravação teriam atingido segmentos de composição diferente.
Outra
questão relevante foi o fato das perguntas terem sido feitas de forma
diferente. A NBC, que constatou o menor apoio à proibição, foi a única que não
deixou claro que a proibição seria temporária. A YouGov e a Rasmussen, que
encontraram mais pessoas favoráveis a proibição, deixaram claro que ela seria
temporária e ainda especificaram um prazo. Além disso omitiram o nome do
candidato que lançou a proposta.
O
que se deduz, e isso vale enormemente para o Brasil, onde pesquisas sobre
política e eleições são feitas e divulgadas quase diariamente, é que existem dificuldades
reais quando se pretende entender a opinião e as atitudes das pessoas. Elas são
decidida e fortemente influenciadas pela maneira como as perguntas – as condições
– são descritas. E variam também se feitas através de pessoas ou com a utilização
de máquinas.
Está
mais do que na hora dos institutos assumirem essas dificuldades. Ao divulgarem
suas pesquisas tem que ficar claro quais foram os meios utilizados e,
principalmente, como foram feitas as perguntas e quais os segmentos de público
foram pesquisados (neste caso com mais clareza ainda). Sem isso as pesquisas
correm o risco de perderem credibilidade e deixarem de ser um instrumento útil
de avaliação e informação do comportamento da sociedade.
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