A REBELIÃO DOS 37 CENTAVOS

Alguém em seu santo juízo acredita mesmo que milhares de pessoas (tá vamos incluir os também a parte dos vândalos nisso para agradar "conservadores" - calma aí tem também para os "progressistas") estão indo às ruas por conta de 37 centavos? 

Andar de transporte público em São Paulo (vou ficar no que conheço de perto) é um horror. O aumento é um tapa na cara de quem sofre. E muito no sistema de transporte público da maior e mais rica cidade do país. Recentemente a prefeitura autorizou o aumento do número de pessoas na lotação dos ônibus, que mudam de itinerário sem aviso, não para nos pontos, correm muito nas poucas vzs em que podem ou se arrastam por itinerários feitos, obviamente, por técnicos que conhecem ônibus de fotografia. 

Andar nos trens da CPTM, que vira e mexe quebram e estão sempre lotados nos horários de pico exige muita paciência e sacrifícios. O metrô logo-logo vai precisar de funcionários para empurrarem as pessoas para dentro do vagões, provavelmente a cacetadas, ao contrário de Tóquio onde usam luvas e delicadeza para "encaixar" os excedentes... Qualquer cidadão, que consegue uma graninha, trata de comprar um carro, por mais velho e acabado que seja e prefere passar horas no congestionamento que enfrentar as malezas do transporte público. E tem mais uma porção de coisas irritando as pessoas: segurança, inflação (precisa falar na alta dos alimentos?), saúde, educação, o custo dos estádios que não vão servir pra nada depois, as obras do "entorno" que não ficam prontas, os impostos... motivo não falta até para os beneficiários do Bolsa Familia, do Bolsa Crakc, do Bolsa Móveis, do Bolsa Presidiário e não sei mais o que. 

O que está acontecendo, tardiamente no Brasil, como sempre, é o novo tipo de manifestação. Vamos ficar no exemplo da Turquia (cujos manifestantes expressaram hoje solidariedade aos brasileiros - rsss): o pessoal foi pras ruas para protestar contra a construção de um shopping na última área verde de Istambul. Deu no que deu. A má administração dos conflitos coletivos difusos levaram as pessoas a "pensarem" em outros assuntos que as estão incomodando. Pronto. A coisa cresce. A falta de lideranças formais deixam as autoridades perplexas, para dizer o mínimo, pois lá, como aqui, não sabem com quem lidar, cooptar, comprar, aniquilar. 

O prefeito, de olho nas próximas eleições, continua pensando pra que lado vai pender, sem saber onde vai arranjar 350 milhões caso tenha que recuar do aumento. O governador, que achou que estava bem na fita pousando de paladino da manutenção da ordem, já mandou a polícia procurar outro assunto (que tal perseguir a bandidagem?) e se as coisas forem radicalizadas vai ter policial carregando manifestante no colo e distribuindo água com açúcar para os mais exaltados. O problema é que o tal movimento Passe Livre quer uma coisa que não tem a menor condição de ser implantada - catraca livre - e obviamente depois de tanta porrada, já tem gente reclamando do preço do tomate, do custo dos estádios, do isso e do aquilo que nem estavam pensando antes. 

Onde vai parar? Quem sabe. Talvez amanhã, sem a motivação policial, talvez demore se as pessoas começarem a pensar no monte de coisas com as quais estão insatisfeitas e comecem a cobrar soluções. E por falar em soluções, é interessante notar como os políticos, de todos os matizes, saíram correndo. Cadê a Câmara de Vereadores? Onde estão os deputados? Cadê os sindicalistas? Tá todo mundo enfiando a viola no saco para sacar uma oportunidade de se dar bem. 

Aposta arriscada. Muito arriscada

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