O USO DO MEDO NA PROPAGANDA ELEITORAL
Nas
últimas inserções partidárias o PT usou, há de se reconhecer com muita
competência, alguns dos recursos que serão utilizados, com toda certeza, no
decorrer da próxima campanha, baseados nas mais recentes descobertas da neurociência
de que o eleitor em geral vota muito mais com a emoção do que com a razão.
A
peça, que ameaça os eleitores com a volta de uma hipotética situação de caos,
tristeza e extrema pobreza, “uma volta atrás”, ao passado, quando os
adversários do PT estavam no poder, verdadeira ou não, surtiu seus efeitos e
incomodou a oposição, que – ciente dos possíveis prejuízos - buscou acolhida
nos tribunais para que fosse retirada do ar.
O
medo é a emoção primária fundamental, a mais importante de nossa vida, capaz de
influenciar com muita força as informações de quem as recebe. A afirmação,
baseada também em estudos da neurociência, é do sociólogo espanhol Manuel
Castells – autor entre outros de A
Sociedade em Rede e Redes de Indignação e Esperança – Movimentos Sociais na Era
da Internet.
John
Mearsheimer, professor de Ciência Política da Universidade de Chicago, famoso
pelo seu livro Why Leaders Lie: The Thth
About Lying in Internacional Politics (Por
que os líderes mentem: a verdade sobre a mentira na política internacional),
desenvolve uma teoria sobre “mentiras estratégicas”, principalmente as que se
utilizam do chamado “bem da pátria”
usadas segundo ele, rotineiramente pelos políticos, principalmente, como
é óbvio, em questões de ameaças a segurança interna e em conflitos com outros
países. Também, na maioria desses casos,
o medo entra como um elemento importante para influenciar decisões. Pode ser o
terrorismo, a “ameaça externa”, a possibilidade de invasão por tropas
estrangeiras e até mesmo questões relativas ao comércio entre as nações. O
leque é amplo, mas o medo, o uso do medo, está presente, com muita força na
formulação das políticas internacionais.
Agora,
é importante salientar que o uso do medo não produz resultados automáticos. Não
basta acenas com ele para conseguir sucesso nos objetivos políticos. É preciso
que o temor esteja efetivamente presente – e em graus razoáveis – no imaginário
da população para que possa ser devidamente explorado e dê certo.
Na
campanha de Serra, em 2002, o PSDB tentou usar esse recurso, mas não funcionou.
A peça, com a atriz Regina Duarte, advertia o Brasil sobre o risco de se perder
a estabilidade conquistada e “ir tudo para a lata do lixo”, inclusive com a
volta da “inflação desenfreada”, caso Lula fosse eleito, já que ele não era a
mesma pessoa “de antigamente”, mas um outro personagem que “mudou tudo que
dizia anteriormente”. Não colou. Não colou porque o medo, tal como foi
expresso, não estava tão arraigado no imaginário das pessoas. Pelo menos não da
forma como foi colocado. No imaginário a inflação estava devidamente controlada
e nenhuma ameaça nesse sentido parecia crível e, no final das contas, Lula não
metia tanto medo e soube contornar com eficiência a ameaça vendendo a
“esperança”.
Hoje
as posições se inverteram, mas pelo menos até agora, o PT tem sido bem
eficiente no uso da fórmula de “vender o medo”, enquanto o PSDB e a oposição em
geral vão ter que se esforçarem mais para vender a “esperança” de dias
melhores. Resta saber se no imaginário popular as cenas apresentadas são
realmente capazes de remeter aos governos anteriores e aos atuais postulantes
do PSDB. De qualquer forma, ninguém, em sã consciência gostaria de vivenciar o
cenário apresentado. Relacionado ou não ao PSDB são medos presentes de forma sólida
e inequívoca na imaginação das pessoas. Vale lembrar ainda que o eventual sucesso
da fórmula usada pelo PT leva em conta a falta de memória, o esquecimento,
relacionado às conquistas do período tucano. O PSDB não foi hábil em mantê-las
vivas, principalmente a implantação do Plano Real e o controle do processo
inflacionário, que antes chegava a casa do hoje inimaginável 80 por cento ao
mês!
Quem
trabalha com o medo tem que levar também em conta as chamadas “produções
simbólicas”, onde o objetivo é captar o que está no imaginário da população,
não importa aí se reais, verdadeiras ou falsas, embora tenham que ter um mínimo
de relevância. A “produção simbólica” é, grosso modo, a representação, a
transformação em símbolos de forte impacto emocional, dos medos presentes no
imaginário. Não basta “falar”, por exemplo do desemprego, um medo sempre
presente em momentos de instabilidade econômica. É preciso retrata-lo com
emoção, com dramaticidade, usando todas as simbologias disponíveis para
retratar esse momento de angústia e desespero que afligem os desempregados. É
aí onde está, também, a eficiência da técnica.
Em
campanhas passadas esses recursos já foram utilizados, de uma forma ou de
outra, ainda que toscamente, mas vai ser nas próximas campanhas que veremos
isso, tratado de forma mais científica, com muito foco nas descobertas e nas conquistas
da neurociência. Já se sabe, inclusive, de candidatos com muito poder econômico
que estão usando tecnologia de ponta, nos grupos de pesquisas qualitativas,
destinadas a analisar em profundidade as emoções, positivas e negativas, que
despertam com suas (e dos adversários) peças de propaganda, discursos etc.
Vamos ver, em breve os resultados. E, com certeza, peças, muitas peças,
trabalhando o medo como forma de atrair eleitores.
Grande Mena: muito boa a sua explanação sobre o uso do medo na propaganda política. Tudo leva a crer que Dilma parou de cair nas pesquisas. Pelo menos o Ibope apontou isto. Seria necessário outros institutos confirmarem esta tendência. E parou de cair, creio eu, não apenas pela propaganda eleitoral do PT (a peça do "Medo" como ponta de lança), que tem uma mídia neste momento muito restrita. Mas também pela bateria de comerciais do Governo Federal - inclusive das estatais como Petrobras, Caixa, Banco do Brasil e BNDES - que estão no ar. Além do mais, a presidente passou a circular mais, conversar mais com o meio político e fazer discursos mais duros, respondendo aos ataques da oposição. Voltando ao discurso do "Medo", geralmente ele é utilizado nos momentos finais de uma campanha, como um recurso derradeiro. Até porque ninguém gosta do medo como sentimento. Foi assim em 2002, que não surtiu efeito, como você bem frisou. Agora não, o PT resolveu lançar mão da estratégia antes do jogo começar, ainda nas preliminares. Isto não deixa de ser um sinal de que a coisa é realmente séria. Enfim, la nave va. Vamos em frente.
ResponderExcluirVerdade G. Enquanto isso, acho,que a oposição ainda não encontrou um discurso capaz de empolgar as "massas". Segundo Cesar Maia, em artigo recente, o Governo Virtual (propaganda+horário político) tem tudo para fazer sucesso (no caso do PT) caso não aconteça alguma coisa realmente grave, capaz de fazer com que as pessoas olhem criticamente (e refutem) as peças. No mais, acho que apesar de tudo (a ofensiva da Dilma e a não empolgação com a oposição) o mar não está pra peixe. rsss. Vamos ver. abs
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