O BRASIL E O FASCÍNIO PELO FRACASSO


Li hoje, um artigo muito interessante sobre o fascínio brasileiro pelo fracasso, escrito pelo economista Josef Barat, no jornal Estado de São Paulo. Barat debruça-se sobre a alternância de sucessos e fracassos recorrentes na nossa história, independentemente de ideologias, onde “cada período de busca pela inserção no mundo contemporâneo e participação no concerto das nações adultas seguem-se os de desmonte das conquistas”, com as “forças do atraso” unindo-se para “manter o País na sua letargia secular”. (inclui-se nas forças do atraso, aquelas que se dizem “progressistas”, mas atando de forma bitolada servem, no final das contas, ao atraso). Assim como a Barat, isso é algo que me intriga. Quais seriam as explicações, afinal, para o que ele chama de “estranho fascínio” que nos persegue ao longo da nossa história?

Barat cita alguns exemplos, mais recentes da nossa história, para ilustrar a sua tese: o esforço de contemporaneidade e otimismo dos anos JK, que foram seguidos por anos calamitosos nos governos de Jânio Quadros e João Goulart, assim como os esforços de estabilização e de bases institucionais inovadoras (econômicas e sociais) do curto governo de Castelo Branco, seguidos de retrocesso pelos de Costa e Silva e Médici. Geisel fez um esforço para dar uma certa lógica de planejamento e objetivos nacionais de desenvolvimento, mas que saíram completamente de controle nos anos de Figueiredo e Sarney. Vem logo em seguida Collor, com o caos instalado, completando mais um ciclo. O realinhamento da economia só é feito com o Plano Real, de Itamar e FHC, com controle de inflação, aumento de real da renda e sua melhor distribuição, com mais credibilidade internacional, que continua durante o primeiro governo de Lula, para esfacelar-se, em seguida, principalmente no primeiro governo de Dilma.

Vivemos hoje mais uma era de fracassos, com alguns dos seus ingredientes principais, por demais conhecidos, principalmente pelas gerações mais idosas, que conviveram com os ciclos de fracassos anteriores: inflação em alta, redução do poder de compra, aumento do desemprego, inadimplência crescente, descrédito internacional, contas públicas em desordem.

Necessário de faz que articulações politicas consigam uma nova governança que tenha a disposição, os recursos e o conhecimento para mudar o rumo das opções econômicas, políticas e sociais. Mas, infelizmente, como conclui o articulista, e mais uma vez concordo, para a dimensão e a complexidade da crise atual faltam estadistas à altura, embora sobrem bazófias para todos os gostos.

Barat tenta, em seu artigo, uma analogia, que ainda fica a dever a uma interpretação sociológica mais profunda, como ele mesmo admite, para esse estranho fascínio pelo fracasso, numa comparação entre a visão de mundo dos adolescentes versus a dos adultos. Adolescentes, é bom que se diga, um tanto desajustados, aqueles que culpam os pais, os professores e o mundo por seus fracassos.  Assim seriam a maioria  dos países da América Latina. Engolfadas por tiranos, suas populações são incitadas ao ódio aos “adultos”, os “outros”, causadores dos seus males.  Nesse contexto o Brasil, e algumas outras poucas exceções da região, estariam um pouco melhor, alternando, pelo menos, os malogros com ciclos de certa prosperidade e modernidade econômica e institucional.  Mas a verdadeira explicação para o nosso fascínio ainda está para ser efetivamente desvendada, algo que vá além da nossa distante herança sebastianista ou, talvez, pelo fato de nos sentirmos mais confortáveis e respeitados entre os nossos vizinhos “adolescentes irresponsáveis”.



Josef Barat, é economista e consultor de entidades públicas e privadas, e coordenador do Núcleo de Estudos Urbanos da Associação Comercial de São Paulo. O artigo comentado foi publicado no jornal O Estado de São Paulo, página B2 do Caderno de Economia de 23/07/2015.


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