REFORMA POLITICA: UMA GERINGONÇA.

O voto em lista fechado é aquele em que o cidadão escolhe
representantes de partidos com os quais compartilha de algum ideário, tem
alguma sintonia com as suas propostas.
Normalmente a escolha é feita entre um partido mais conservador, um outro de
centro e um mais a esquerda. Como escolher entre mais de 30 partidos, cujas
ideias sequer somos capazes de adivinhar? Fiquemos, por exemplo, apenas nos
três mais importantes: PT, PSDB e PMDB. Saberia o nobre leitor distinguir, com
clareza, as plataformas de cada um desses? Imagine então este exercício feito
entre os 35 atuais e a fila que existe a espera do registro, quando chegaremos
aos 40 ou mais agremiações partidárias.
E tem mais jabuticaba nessa parada. Ao que tudo indica
pretendem manter a coligação partidária, uma coisa completamente absurda de
existir num processo de lista fechada. O eleitor vai votar numa coligação, no
ideário de uma coligação, formada por partidos cujos programas ele não faz a
menor ideia, muito menos do que reúne os seus coligados.

É tolice imaginar que o conjunto da população esteja
acompanhando de perto as tentativas de mudar as regras, como sempre, às
vésperas das eleições. O eleitor, a população em geral, estão preocupados com
as coisas do dia-a-dia. Preocupados com a crise econômica, com o desemprego,
com os intermináveis problemas que afetam as suas vidas e não veem na classe
política, essa que está aí, nenhuma condição de resolver, de forma efetiva, os
seus problemas.

Fala-se ainda, como justifica para essa reforma de ocasião,
que ela vai baratear as campanhas. É uma conversa que se supõe agrade ao
eleitor. Uma conversa tocada pela mídia, inclusive. O argumento tosco é: as
campanhas são caras e por isso existem os caixas 1, 2, 3... Campanhas, nos
moldes da legislação atual, custam realmente caro, mas – vamos combinar –
roubalheira é outro assunto. O dinheiro que rola, teoricamente, para cobrir
gastos de campanha, cobririam campanhas e mais campanhas. É dinheiro destinado
ao enriquecimento ilícito ou ao suborno. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é
outra coisa. E, ao que se sabe, o eleitor nunca se preocupou muito com os
custos das campanhas. Ficou ressabiado agora, quando descobriu a montanha de
dinheiro, que rola para lá e para cá, entra no como financiamento de campanhas,
mas em muitos e muitos casos, trata-se, na verdade, como acobertamento para
outros assuntos.
O voto em lista vai de encontro, também, a uma outra
realidade que passa desapercebida, ou é propositalmente ignorada, que é a
renovação das casas legislativas. Qualquer pesquisa rápida no Tio Google
demonstra que o eleitor brasileiro manda para casa, a cada eleição, nada menos
que 50% dos eleitos anteriormente. É uma tendência constatada há anos. As
razões são muitas, mas aqui o que interessa vai ser a surpresa do eleitorado,
ao constatar que não podem mais fazer isso e que – pelo novo sistema – vai
perpetuar os mesmos de sempre ocupando as cadeiras dos parlamentos.
Como reagirá o distinto público a todas essas mudanças só
vendo para crer, mas que não vai ser uma eleição tranquila, com certeza não
será. É pagar para ver. Ou sair correndo.
Comentários
Postar um comentário