ESQUERDA DE DIREITA, DIREITA DE ESQUERDA.
A rigor isto aí do título parece uma
maluquice, mas é o que acontece na sociedade brasileira, onde esquerdistas têm
ideias nitidamente de direita e vice versa, coisa difícil de acreditar, mas
é o que revela uma pesquisa – O Brasileiro
e a Política – realizada recentemente pelo Instituto Locomotiva. Vão aí alguns
números, definitivamente assustadores, com conceitos que valem a pena conhecer
e que só um grande pacto, sobre como gerir a sociedade, pode superar esse
caldeirão de ideias conflitantes e o gigantesco fosse entre a opinião pública e
políticos.
É o que está embutido nas
pesquisa, na opinião de Renato Meirelles, economista do instituto, em entrevista
a Sonia Racy, do Estadão, quando aponta duas grandes conclusões geradas pela
pesquisa: um deles é o distanciamento abissal entre os cidadãos e a classe
política, o que não é novo, mas que cresceu – e muito – nos últimos anos. O
outro é o cenário difuso, com ideias muitas vezes conflitantes, de uma nova
opinião pública forjada nas redes sociais, mais uma vez ignorada pelos
políticos.
Meirelles acredita que tem
muita gente “olhando a sociedade contemporânea com olhos do século 20”e cita as
eleições para prefeito em São Paulo, onde João Doria venceu no primeiro turno e
Donald Trump, para presidente dos EUA para perguntar: Quantos analistas
previram foram capazes de prever esses resultados e explica-los a tempo e a
hora.
O economista explora muito
bem a questão dos “três terços” que dividem a sociedade brasileira e cita as
últimas eleições para presidente para ilustrar: Dilma tinha um terço do
eleitorado, Aécio um outro terço e o terceiro formado pelos votos nulos,
brancos e abstenções. Ou seja dois terços do eleitorado não tinham votado na
chapa vencedora.
Em outro exemplo, ele
chama a atenção a nova formação da família brasileira, aquela reunida no café
da manhã, papai, mamãe e a prole, corresponde hoje apenas a um terço do total
das famílias brasileiras. Temos hoje milhões de indivíduos que moram sozinhos e
nada menos que 54 milhões de internautas nos últimos 10 anos.
O que isso significa? Uma
nova formação na sociedade, ainda que gerada ao longo dos últimos anos, precisa ainda ser entendida na sua complexidade, principalmente pela classe
política, mas – pelo andar da carruagem, acho que isso sequer tenha sido
captado, ainda que de muito longe pelo radar dos políticos.
Alguns dos números da pesquisa
64% acham que a democracia é
o melhor regime, mas ao mesmo tempo, 51% acreditam que tudo estaria melhor se
não existissem partidos.
47% que se dizem de esquerda
afirmam que “direitos humanos não valem para bandidos”. E 64% dos que se classificam como de direita gostariam
de um governo com estatais fortes.
Nada menos que 84% dizem que
o País “está no rumo errado”, mas a política é relegada a um oitavo ou nono
lugar entre as prioridades de cada um.
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