É POSSÍVEL GOVERNAR VIA REDES SOCIAIS?
Sim e não. Depende muito do conceito de
“governar”.
A primeira lembrança será provavelmente a
de Donald Trump, que muita gente acha, precipitadamente, que governa via redes
sociais. E seguem muitos outros exemplos, a gosto. O presidente americano usa
as redes para fazer política, manter ativos os seus eleitores e pressionar os
demais poderes. Para governar de verdade precisa no entanto, (ainda) da
concordância e da anuência das demais esferas de poder – os contrapesos – que
garantem a existência da democracia. Por enquanto é o que permitem as redes,
noves fora os ditadores de plantão, que podem usá-las apenas para “informar” o
que estão fazendo e os seus planos futuros. Ainda assim precisam “formalizar”
de alguma forma, dependendo do grau de poder que exercem, os seus decretos e
ordens.
Isso não significa, no entanto, que as
redes não possam ser usadas para uma espécie de governança informal, muito
poderosa, como instrumento de pressão social, onde o governante imponha suas
ideias, desmoralize os demais poderes e através de uma mobilização “das massas”
force a sociedade a “aderir” às suas ideias e projetos. É o que vem fazendo
Donald Trump e seus adeptos mundo afora.
Apesar do aparente sucesso do uso das redes
para impor ideias e projetos, há limites, que se não forem observados, podem
resultar em efeitos contrários. Ainda que mais restritos a países onde a
democracia e seus contrapesos (os demais poderes e o comportamento social
vigente) ainda existem, a radicalização
e a provocação exacerbadas, via militância, tendem a provocar reações
contrárias igualmente radicais e, muitas vezes, rachas dentro do própria grupo.
Quando a radicalização nas redes, feitas ou
estimuladas pelos governantes, atinge um determinado ponto crítico, com ataques
a personagens ou instituições que são chave nos processos políticos, ela
bloqueia as possibilidades de sucesso das pautas do próprio grupo no poder. E
leva a uma crise generalizada, que pode resultar em caos social ou a instalação
de um governo de força, com a dissolução ou submissão dos demais poderes,
passando por cima dos outros contrapesos, como a liberdade de imprensa, por
exemplo.
Se a intenção clara do governante é usar,
sem limites, as redes sociais para se impor, cabe a sociedade e aos demais
poderes reagirem rapidamente, usando inclusive as próprias redes, com igual
força e disposição, para mobilizar forças contrárias. A omissão e/ou fraqueza
pode significar a derrota, que chegará muito mais rapidamente do que se imagina
inicialmente.
As redes estão aí. Sempre haverá
manifestações radicais e de intolerância de todos os matizes.
Como as mais
variadas forças políticas, os demais poderes, instituições e a sociedade em
geral vão reagir é o que vai determinar o futuro das nações onde os governantes,
políticos e líderes outsiders usam as redes para impor suas ideias e posições. Elas
podem ajudar no aprimoramento social ou nos conduzir ao caos e aos regimes de
força. Está nas nossas mãos. Frear os abusos, combater a intolerância, o
radicalismo, defender a livre manifestação do contraditório, a existência e
independência dos demais poderes e o respeito e a manutenção da democracia. Nas
redes e fora delas.
Governar: verbo transitivo.
Administrar: governa o país com firmeza e sabedoria.
Reger, dirigir, ter autoridade, conduzir
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