O IGNORANTE CONVENCIDO
Esclareça-se logo que não estou me refiro a
ninguém especificamente, ainda que vontade tenha, acima e abaixo, à esquerda e
à direita. Trata-se da conclusão de um estudo, o Dunning-Kruger effect, de dois professores da Universidade Cornell,
dos EUA, onde demonstram que indivíduos com pouco, ou nenhum, conhecimento
sobre determinado assunto, acreditam saber bem mais sobre ele, que quaisquer
outros mais preparados.
O interessante do estudo de David Dunning e
Justin Kruger, publicado há 20 anos no Journal
of Personality and Social Psychology, é que a partir do momento em que esse
indivíduo vai adquirindo mais informações sobre o assunto, suas convicções
diminuem. Elas só voltam a aumentar, na medida em que ele se converte num
expert no assunto. O mais surpreendente, no entanto, é a conclusão do estudo: mesmo quando a pessoa
está totalmente preparada e instruída sobre determinado assunto, ela jamais
atinge o nível de certeza que tinha, quando o seu nível de conhecimento era
mínimo.
Lembrei desse estudo ao ler um artigo de
Sérgio Rosenthal, publicado no Estadão, onde ele usa, brilhantemente, o estudo
da dupla, para “explicar” como os brasileiros têm sido estimulados a se
manifestarem contra decisões judiciais, que na realidade não compreendem e, ao
mesmo tempo, apoiarem projetos de lei que desconhecem, sendo ao mesmo tempo,
incapazes de vislumbrarem as suas consequências.
Independentemente do objetivo do artigo de
Rosenthal, o modo como a sociedade está lidando com algumas decisões judiciais
sobre as quais o conhecimento é mínimo, mas as opiniões, sem qualquer base
razoável de informação, são muitas, o estudo explica bem como andam as
discussões políticas no Brasil atualmente. E pior, como são tomadas decisões
importantes, que vão influenciar em muito as nossas vidas hoje e no futuro.
Previdência, reforma trabalhista, Estado
mínimo, pacto federativo, extinção de municípios, privatizações, entre muitos
outros, são abordados com convicção, a favor e contra, mas sem qualquer
conhecimento sobre os temas. Isso sem falar dos supostos alinhamentos
políticos, onde esquerda (comunismo), centro direita, centro esquerda e direita
(fascistas) são esgrimidos às cegas.
O problema é que quando a radicalização
ocupa o cenário político, a discussão consequente, a valorização do
contraditório e as opiniões divergentes se escondem na coxia.
Não se trata aqui de cercear o direito de
todo cidadão de se manifestar sobre temas do seu interesse, o problema está
quando as manifestações, sobre assuntos fundamentais para a sociedade, passam a
ditar o comportamento do Executivo, do Congresso e do Judiciário, devido as
pressões de grupos, que impõem os seus valores e as suas convicções, graças ao
terreno fértil que encontram entre os indivíduos sem conhecimento, mas
convictos na sua ignorância.
A única saída está na educação. Mais
instruídas as pessoas adquirem conhecimento crítico. Quando mais instrução,
mais conhecimento, menos imunes à manipulação. Educação aqui no sentido mais
amplo, que vai além do adquirido nos bancos escolares, mas passa por eles, onde
se pode aprender o valor da dúvida, da análise minuciosa dos pontos positivos e
negativos, das possíveis consequências de atitudes de ações.
Quem dera que o estudo de David Dunning e
Justin Kruger não encontrasse tanta aderência, concordância e ressonância no
atual momento social e político do Brasil. Resta torcer.
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