QUE SAUDADES DOS
TEMPOS DA DITADURA
(Advertência - rsss: o título acima, como os de outros
posts, é apenas um recurso “publicitário” para estimular a leitura. Se você
chegou até aqui, leia o resto. Pode ser ilustrativo, juro que não dói, para
pensarmos melhor o presente e o futuro de Pindorama).
Então vamos lá: pessoas
de mais idade, como eu, viveram os tais anos de chumbo e a suposta “saudade”, que sinto desse período, se
refere apenas a clareza de posicionamentos (sim, sei que isto não existe mais)
onde era possível identificar os “bons e os maus” facilmente, bem ao gosto dos
brasileiros, que adoram uma dicotomia clauberiana, de Deus e o Diabo peleando
eternamente na Terra do Sol.
O sujeito estava do lado
da ditadura? Pessoa má. Do lado contrário? Boa pessoa. Ou vice-versa,
dependendo do lado do observador, é claro. Tudo resolvido da maneira mais
simples e direta, sem sutilezas, sem muito – ou melhor, bem pouco – pensar.
A ditadura foi pro brejo,
mas foi com jeitinho, a brasileira, apaziguadoramente, sem provocar grandes
traumas nos que – teoricamente – foram vencidos ou vencedores. E assim fomos
nós, ainda cantarolando, “todos juntos, vamos, pra frente Brasil”, rumo a
democracia e “salve, salve a seleção canarinho”, acreditando que nos novos tempos só as boas
pessoas teriam lugar ao Sol, com maus condenados eternamente ao lado sombrio da
força (e, como adoro insistir, de ambos os lados).
Tudo uma maravilha até descobrimos
que a vida – as sociedades – são mais complexas, que o estereótipo do brasileiro
“bonzinho”, já satirizado em antigos programas humorísticos (sim, pouca gente
há de lembrar). E muito menos que todas as opções que temos, hoje, ao contrário
dos “bons velhos tempos”, não se resumem a escolha inevitável entre Lula e
Bolsonaro.
E isso é bom? É, por mais
contrariados que fiquem alguns dos meus amigos. Máscaras são coisas péssimas, a
sua função principal é enganar, escondendo. Precisamos conhecer, colocar na luz
do Sol, libertar dos porões escuros, todos os fantasmas que ainda povoam a
sociedade brasileira, que são em muito maior número e bem mais complexos que
escolher entre um e outro aí acima.
O brasileiro não é
diferente do resto da humanidade. Por aqui temos o que viceja em tudo quanto é
canto do mundo: gente da extrema esquerda e da extrema direita, reacionários
nos costumes, misóginos, assassinos, espancadores de mulheres, um monte de
amantes de governos totalitários (mais uma vez à direita e à esquerda) e por aí
vai, assim como gente séria, de boa índole e costumes, que quer – e pode –
fazer o melhor pelo País, ainda que não seja do tipo intervenção divina, com o
fim, para todo o sempre, de todos os nossos problemas. Os “bons tempos”, onde tudo era preto no
branco, acabaram. Graças a Deus!
Não há prejuízo nenhum em
conhecermos a verdadeira natureza do nosso povo, com seus altos e baixos, muito
pelo contrário. O que precisamos sepultar, de uma vez por todos, é o
choramingar. Oh céus, oh vida, não sabia que ainda existia gente assim! E tanto
faz se da esquerdona ou da direitona.
As pessoas de bem
precisam sair da toca e se apresentarem para o bom combate. Chorar pelos
cantos, como vítimas de algum designo de deuses severos, não vai adiantar.
Muito menos desejar que – por obra e graça de algum exorcismo – ou de discursos
inflamados de velhos palanques – os arautos do mal desapareçam como que por
encanto.
Os tempos sombrios sempre
chegam com muita vontade de se eternizarem. Ou saímos de uma vez por todas
dessa dualidade (bons e maus) e encaramos que existem muito mais nuances dos
dois lados do que gostaríamos ou estaremos eternamente condenados a bobagem de
Deus e o Diabo na Terra do Sol. E aí só resta mesmo morrer de saudades dos bons
e velhos tempos da ditadura militar, da guerra fria, da “cortina de ferro” e
outras porqueiras do gênero.
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