TERRORISMO, LAMA E EPIDEMIA DE MICROCEFALIA
Isso tudo junto faz algum sentido pra você? Provavelmente não,
mas são, todos atos terroristas, ainda que praticados por agentes heterodoxos,
com motivações total e absolutamente diferentes. O fato é que os ataques do
terrorismo clássico em Paris ofuscaram (e aqui não vai nenhum juízo de valor, nem
qualquer tentativa de fazer campeonato de tragédias) ofuscaram, repito, na
mídia, duas inacreditáveis – e anunciadas – tragédias no Brasil.
O mar de lama, da mineradora Samargo, segue provocando
destruição e morte e pesquisadores já admitem que a saúde das populações, por
onde ela passa, está ameaçada por muitos e muitos anos, com a contaminação da
flora e da fauna das regiões atingidas por toda a sorte de metais pesados,
incluindo mercúrio, na verdade por praticamente “toda a tabela periódica” ,
como já declarou um especialista.
Espera-se problemas gravíssimos de saúde em humanos, como
consequência do consumo de água, de animais, que se alimentam e se alimentarão
em solos contaminados, o mesmo acontecendo com a lavoura. E não estamos falando
sequer dos prejuízos financeiros e das extensas áreas que se tornarão
inabitáveis, com a solidificação da lama.
A outra tragédia anunciada é uma inacreditável “epidemia” de
microcefalia, com centenas – notem centenas – de crianças sendo diagnosticadas
em praticamente todo o país. A causa tem como principal suspeita a tal de Zika,
que teria contaminado as mães e que é
transmitida pelo mosquito da dengue, responsável também pela disseminação
da Chikungunya, outra doença viral cujos
sintomas são muito parecidos com os da dengue. Já são vários Estados em alerta
e a grande providência das autoridades, até agora, além da notificação de casos
de grávidas com sintomas da doença é a “recomendação” para que as mulheres
evitem a gravidez pelo menos nos Estados onde a epidemia está sendo registrada.
No caso da lama estão sob suspeita mais duas barragens, que correm
risco de rompimento e podem provocar uma tragédia ainda maior. Tudo sob os
olhares cúmplices e complacentes das nossas autoridades, não foram capazes de
fiscalizar, prever ou, ao menos, terem um plano de contingência para o
enfrentamento de tragédias deste tipo. No caso da Zika, a sua entrada no país
não foi levada a sério, em se tratando de algo totalmente desconhecido pelas
autoridades da saúde, sendo classificado como uma doença parecida e – pasmem –
menos letal que a dengue. O resultado é esse: uma epidemia de microcefalia,
centenas de crianças que terão o seu futuro comprometido, famílias envoltas
numa tragédia que poderiam ter evitada se um mínimo de informação lhes fosse
oferecida.
Trata-se, na minha – talvez esdruxula opinião – todos atos
de terrorismo. O do tal “Estado Islâmico” não requer explicação. São conhecidas
as motivações e os métodos. Nos outros dois estão presentes todas as
caraterísticas de um ato de terror: provocar transtornos incontroláveis na vida
das pessoas, com a possibilidade real de morte, dor, medo, com total insegurança
sobre o seu modo atual e futuro de vida. Estão todos presentes nos dois
episódios, graças a permanente omissão do Estado brasileiro, sua inépcia na
fiscalização de atividades perigosas, sua inacreditável incapacidade de
prevenir tragédias, seu eterno desleixo pelos malefícios, de todas as espécies
e qualidades, que recaem sobre a população sempre indefesa e desinformada sobre
as consequências das tragédias anunciadas
Enquanto isso a preocupação dos atores políticos e do
“mercado” é com a possibilidade da troca
do ministro da Fazenda, o Levy, pelo Meirelles. Deus nos ajude.
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