MINHA TIA NÃO É FASCISTA MEU SOBRINHO NÃO É COMUNISTA

Lá na casa dos parentes o pessoal está dividido. Tem o pessoal de Bolsonaro e a turma do Haddad. A minha tia vai votar no Bolsonaro. Trata-se de uma senhora conservadora, ciosa dos valores que acredita cristãos, amante da lei e da ordem. O meu sobrinho vai de Haddad. Quer menos desigualdades sociais, respeito as minorias e é preocupado com o meio ambiente e em particular com o desmatamento da Amazônia. Vegetariano, não vê com bons olhos a pecuária.

Minha tia não quer perseguir os gays, ainda que ache esse pessoal esquisito. Professora aposentada, sempre trabalhou e detesta qualquer discriminação contra as mulheres e se orgulha do seu trabalho doméstico, do cuidado com a casa e a criação dos filhos, tarefa que atribui ao gênero feminino. Acha que essa coisa de gênero é contra as leis de Deus, mas que cada sua sabe de sua vida.

Meu sobrinho não quer nada com o comunismo. Na verdade nem sabe direito o que é isso, ainda que seja aluno aplicado do curso de Direito da São Francisco, a mesma onde Haddad se formou e – me parece – é ou foi professor. É amante da liberdade, defensor do direitos humanos, não aprecia o que acontece na Venezuela, onde “o povo está passando fome”.

Em comum os dois querem mudar o Brasil. Para melhor. E acreditam que os seus candidatos são os mais indicados para isso. A minha tia gosta do “ordem e progresso”. Sem ordem, sem leis, sem segurança, não vamos a lugar nenhum, gosta de afirmar. O filho inclina-se pela erradicação da pobreza, pois só assim podemos crescer de verdade.

São brasileiros, cansados de tudo isso que está aí. Nem fascistas, nem comunistas. Escolhas certas? Erradas? Como milhões de outros brasileiros acreditam que seus escolhidos vão mudar as coisas rapidamente. Acreditam em governos fortes, acreditam na força do presidência, minimizam o congresso, acham que basta querer para fazer.

Acredito que estão, ambos enganados, mas não posso deixar de aplaudir suas escolhas, sinceras e bem intencionadas. Convivem harmoniosamente, ainda que decepcionados com as opções eleitorais de vários familiares, divididos, em que outras casas, entre as duas opções que restaram. Sobram provocações, discussões acirradas, mas respeitosas.

Não fazem parte das tropas de elite das candidaturas postas. Como a maioria absoluta dos eleitores dos dois lados. É uma gente apenas em busca de proteção. De proteção contra o desemprego, de proteção contra a crise econômica, de proteção contra a insegurança, desejosos de uma vida melhor, com regras claras, com ordem, respeito, abundância e felicidade.

Não são fascistas, nem comunistas. Gente normal, procurando uma vida melhor, fazendo suas escolhas. E tomara que sejam respeitados. Seja lá qual for o resultado dessas eleições.

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