BALBÚRDIA NA COMUNICAÇÃO DEIXA O DEBATE PELADO

 Pra começo de conversa o tal de contingenciamento foi apresentado pelo governo como corte. E pior: como uma espécie de punição a três universidades, especificamente, onde reinaria a balbúrdia e a bagunça, além da presença de um monte de gente pelada. Depois (haja comunicação) foi estendido para o conjunto das universidades. 30% para uns, 3,5% para outros (cadê a comunicação?). A diferença é abissal.

Se não é corte, é contingenciamento por que não se explicou isso direito, desde o início, dando preferência a discussão sobre bagunça e gente pelada? Todas as vezes que a arrecadação cai (e caiu), contingenciamentos têm que ser feitos. Governos, volta e meia, são obrigados a usar esse recurso para escapar da Lei de Responsabilidade Fiscal. Se o problema é esse, não seria melhor se concentrar nisso em vez de levar a coisa para outro lado? E só a Educação foi contingenciada? Quais os outros setores que também sofreram “cortes/contingenciamentos” nos seus orçamentos? Alguém sabe, alguém viu? (cadê a comunicação?)

Ah, é uma questão ideológica. Não, não é. A história está cheia de exemplos de como governos, da extrema esquerda a extrema direita, usaram muito bem a comunicação para justificar os seus projetos e objetivos. Na maioria absoluta, diga-se de passagem, nada nobres, muito pelo contrário.

Uma boa comunicação teria resolvido o problema? É claro que não. Teria ainda assim muita gente descontente e até mesmo manifestações contrárias? Com toda certeza. Mas a discussão estaria em outro patamar.

Como se não bastasse, depois de uma “explicação” bastante razoável sobre o tal de

contingenciamento, logo em seguida, em entrevista nos Estados Unidos, o presidente resolveu desmoralizar os manifestantes na base de xingamentos. Pode ter agradado a sua militância (e agradou), mas foi uma boa “comunicação” para o conjunto da sociedade? Serviu para elevar o nível da discussão, ou esclarecer o assunto? Claro que não.

Ah, depois veio o porta-voz, como sempre, colocando panos quentes, com uma versão politicamente correta sobre as manifestações. Adianta? Mais uma vez, claro que não.

A pergunta que fica é: afinal quem manda na comunicação do governo? Quem controla – ou ninguém consegue – a língua do presidente, que fala como se fosse qualquer cidadão emitindo suas considerações pessoais em mesas de botecos? Não é possível governar um país dando opiniões, sobre qualquer assunto e a qualquer hora, como se estivesse na sala de jantar de casa, entre amigos e familiares.

Uma boa comunicação é fundamental para uma boa governança. Resolve todos os problemas? Outra vez: é claro que não. Mas é peça fundamental para dialogar com a sociedade, se fazer entender, conquistar apoios e serenar ânimos. Ou o governo compreende logo isso, muda tudo e fecha a boca do presidente (e de vários auxiliares) ou o seu futuro é sombrio e vamos mergulhar em outra crise institucional, agravada pela polarização e o radicalismo, presentes como nunca na sociedade brasileira. E todo mundo vai pagar o pato. Da direita a esquerda, passando pelo centro, não escapa ninguém.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

DE QUEM É ESSE JEGUE, ESSE JUMENTO NOSSO IRMÃO?

UM SONHO DE XOXOTA EM BARRA GRANDE

ABSTENÇÃO: PROTESTO OU DESINTERESSE?