DEMOCRACIA: OS ELEITORES SABEM REALMENTE FAZER BOAS ESCOLHAS?
No momento em que a crise na Venezuela
ocupa um bom espaço na mídia e a discussão sobre a importância da democracia
também permeia o debate político interno no Brasil, acho que cabe uma reflexão
sobre a real competência dos eleitores para escolher seus presidentes e demais
representantes.
Boa parte dos cientistas políticos, em que
pesem as suas preferências irrestritas pelo modelo democrático, têm, no
entanto, se mostrado cética, não apenas com relação a sobrevivência das
democracias nos tempos atuais, mas principalmente sobre a figura do eleitor e
sua capacidade em fazer boas escolhas.
Uma democracia, para funcionar bem, se
ancora em algumas bases: a liberdade de escolha, que dá poder ao voto, a
autonomia e os limites dos poderes (executivo, legislativo e judiciário) e os
pesos e contrapesos, mesmo que não escritos, que balanceiam a convivência e a
atividade social e política.
Teriam os eleitores, diante dos desafios
sociais e econômicos o discernimento necessário sobre a importância desses
pilares e da sua manutenção, fazendo as escolhas corretas? Os movimentos do
eleitorado, no mundo atual, criam sérias dúvidas sobre essa capacidade e o seu
grau de envolvimento com os ideais democráticos.
Como se divide, em linhas gerais, o
eleitorado? Como pensam e agem os seus segmentos? Fazem escolhas corretas,
competentes? Como reagem às duas atuais – e bem grandes – ameaças a democracia:
o empoderamento de populistas, via redes sociais, e a ingerência de entidades e
grandes órgãos públicos, que não consideram os cidadãos aptos a decidirem sobre
as complexas questões econômicas do mundo atual? (ver Yascha Mounk – “People vs
Democracy”).
Um dos mitos, ou das expectativas míticas,
sobre a democracia é que eleitores com mais formação educacional fazem as
melhores escolhas. A realidade é que esse segmento costuma votar baseado em
escolhas ideológicas, arraigadas, voltadas para candidatos e partidos de
posições duvidosas, cujas aspirações são comumente contrárias aos ideais
democráticos. Segundo Bartels e Achen, autores do “Democracy for Realists” –
Democracia para Realistas) a maioria das pessoas, bem educadas ou não, votam
(debatem e se envolvem em política) baseados em suas crenças, mais preocupados
na derrota dos que consideram seus adversários do que nos pontos de vista
defendidos pelos seus eventuais candidatos.
Jason Brennan, autor do polêmico “Against
Democracy” (Contra a Democracia) acredita que os eleitores estariam divididos
entre “hobbits”, “hooligans” e “vulcanos”. A maioria, composta pelos hobbits, são
desinteressados sobre política e não conhecem nada sobre assuntos de governo.
Por serem maioria são os mais disputados pelas candidaturas, que usam, entre
outros recursos os “hooligans” para convencê-los. Cegos ideologicamente e
avessos a qualquer contraditório os “hooligans” estão maciçamente presentes nas
redes sociais. Ah, e os vulcanos...? (quem lembra do personagem Spock, da série
Jornada das Estrelas? Racional ao extremo, inteligência cientifica, superior...)
Com tais qualidades os eleitores “vulcanos” poderiam fazer a diferença, mas o
seu número é reduzidíssimo e como diz Luiz Fernando Pondé, em artigo intitulado
“Uma Ciência Política Cética”, “a democracia é um regime de quantidades”.
Infelizmente.
Estaria então a democracia caminhando para
a derrocada nos tempos atuais?
Talvez não. Mas será preciso avançar sobre os
“hobbits, conscientizando-os, derrotar os “hooligans”, ou pelo menos reduzir a
sua influência sobre as massas, e ainda contar, apesar do seu número reduzido,
com os “vulcanos”, fazendo com que entrem na atividade política. A outra
alternativa é esperar que os governos populistas e autoritários, a exemplo da
Venezuela, caiam de maduros, sem trocadilho, por incompetência.
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