Dados privados hackeados A prática continua. Firme.
Depois do
fechamento da Cambridge Analytica, os mais ingênuos imaginaram que a coleta de
dados de usuários, sem autorização ou conhecimento das pessoas, em aplicativos
e plataformas na internet, para fins políticos e empresariais, teria cessado
ou, na pior das hipóteses, diminuído sensivelmente. Infelizmente não foi isso
que aconteceu.
A captura de
informações pessoais sem autorização continua solta por aí, dando as cartas na
veiculação de anúncios altamente personalizados e muito pior, influenciando e
interferindo na política e nas eleições de vários países, com a divulgação de
informações, muitas delas falsas, destinadas a provocar reações controladas em
grupos de eleitores.
Depois das
denúncias sobre a manipulação dos dados pessoais das pessoas, capturados
basicamente no Facebook, a Cambridge, acossada nos tribunais, fechou as portas,
mas a tecnologia para abastecer big datas com essas informações está mais do
que disponível e empresas continuam com as más práticas, principalmente – mas
apenas por enquanto – na área comercial.
Mesmo as grandes
corporações, com reputações a serem preservadas, não escapam da coleta ilegal
de informações pessoais fornecidas pelos usuários nos vários sítios da
internet. Recentemente o YouTube, empresa da Google, concordou em pagar nada
menos que 170 milhões de dólares, em um acordo com a justiça norte-americana para
evitar um processo, que seria muito mais oneroso.
A empresa estava
fornecendo informações, dados pessoais detalhados das crianças que assistiam a
programas infantis no canal, para fabricantes de brinquedos, que assim podiam
criar e veicular anúncios muito específicos dos seus produtos, de acordo com os
perfis detalhados capturados ilegalmente pelo canal.
A preocupação, com
o direito a privacidade dos dados de quem navega pela internet ou faz compras em
sites, só faz aumentar, ao mesmo tempo em que se constata um alto grau de
negligência na proteção desses dados, por parte de empresas de todo o tipo.
Se a negligência
com a guarda dos dados e o uso não autorizado para a veiculação de anúncios,
dirigidos especificamente para grupos de pessoas preocupa, pior ainda quando se
trata do uso dessas informações para a manipulação política.
A Cambridge
utilizou posteriormente, sem constrangimento algum, dados coletados na campanha
de Barak Obama para atender a Donald Trump, influenciou eleições em países
africanos, manipulando com informações falsas grupos étnicos, influenciando
decisivamente o resultado de eleições, esteve na América Latina e na Europa, em
mais de um país, tendo interferido inclusive no referendo sobre o Brexit na
Inglaterra, entre outras estrepolias mundo afora.
Se em inúmeros
países, com destaque para os da União Europeia e mais secundariamente pelos
Estados Unidos, a proteção de dados preocupa e medidas têm sido tomadas para
impedir a sua exploração e manipulação, com movimentação significa da sociedade
civil, aqui no Brasil, além de uma legislação muito frágil, a questão não
empolga a sociedade.
No Brasil a Lei Geral de Proteção de Dados - LGPD,
sancionada em agosto do ano passado, estabelece o teto de R$ 50 milhões nas
multas para empresas que deixem vazar dados de seus clientes. Além de branda a
punição só passa a valer em 2020. Se já é leniente com o setor privado, não é
de se esperar mais rigor quando o problema chegar a área pública e pior ainda
no jogo politico eleitoral.
Só no ano passado, mais de 200 grandes empresas
brasileiras revelaram ter sofrido algum tipo de ataque. Entre elas a Uber (que
admitiu ter dados de 156 mil brasileiros copiados de seu sistema), a Netshoes
(que teve informações de 2 milhões de clientes vazadas no fim de 2017), além do
Facebook e a C&A. A rede varejista, no fim de agosto de 2018, foi vítima de
ciberataque no cadastro de vale-presente e trocas. Mais de 2 milhões de
clientes teriam sido afetados.
É verdade que algumas restrições foram criadas na
legislação eleitoral, voltadas principalmente para coibir as fake news, mas a
tecnologia e o caminho aberto pela Cambridge Analytic estão por aí, mais vivos
que nunca. É bastante provável, portanto, que seja empregada, ainda que à
margem da lei, por pessoas e instituições não muito preocupadas com isso, que
encontrem caminhos alternativos para manipular eleitores.
Com os ânimos acirrados e as posições extremadas, que
caracterizam a sociedade brasileira, não é nada improvável que isso venha a
acontecer. É preciso que todos fiquem muito atentos e que a sociedade repudie
firmemente esse tipo de iniciativa.
No mais é cada um cuidar dos dados que oferece por aí,
graciosamente, abrindo todos os aspectos, posições e informações da sua vida em
qualquer site ou plataforma da vida.
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