Todo o dinheiro na reta final da campanha? Um erro fatal
Recentemente ouvi mais uma vez esta pérola,
que julgava extinta. Dar pouca atenção a um trabalho consistente, antes da
campanha eleitoral propriamente dita, e concentrar todos os esforços na tal “reta
final”.
No passado isso fazia algum sentido, mas quem
continua acreditando nisso certamente não entendeu nada do que aconteceu nas últimas
eleições, continua a vivendo feliz em tempos analógicos.
Quem ainda pensa em campanhas como
antigamente esquece, ou desconhece como os brasileiros (e os eleitores,
obviamente) estão usando as redes sociais e aplicativos para praticamente tudo
em suas vidas.
O Brasil tem hoje cerca de 420 milhões de
aparelhos digitais ativos, com destaque para os smartphones, que já estão na
casa dos 230 milhões. Metade dos brasileiros fazem suas compras pelo celular,
usando aplicativos e mídias sociais.
O celular veio para ficar e só não vê quem
não quer.
O uso intensivo dos smartphones na vida
diária das pessoas tem o seu reflexo também na política, onde a era digital
introduziu novos modelos de persuasão. E em uma escala sem precedentes. É
possível, e a Cambridge Analytica demonstrou isso nas suas estrepolias ao redor
do mundo, que é possível aferir desejos, conhecer as posições mais íntimas de
cada pessoa e com isso bombardeá-las com mensagens extremamente personalizadas.
O grau em como isso vem sendo feito ainda
varia, mas os dispositivos e a tecnologia estão aí a disposição para qualquer
um que se disponha a investir.
Uma pesquisa do Datafolha, publicada às
vésperas do primeiro turno da última eleição já mostrava o poder das mídias
sociais. Bolsonaro era destaque na maioria dos quesitos e só não viu que não
quis. O Facebook era usado por 57% dos eleitores do atual presidente, contra
40% de Haddad. No WhatsApp, Bolsonaro reinava praticamente sozinho, com 61% de
seu eleitorado, contra apenas 38% do petista. Um levantamento feito pela
Socialbakers, plataforma de análise e gestão digitais, mostrou que Bolsonaro
saia de 6,9 milhões de seguidores, em várias plataformas, em janeiro de 2018
para nada menos que 17,1 milhões em outubro. Toda essa gente compartilhando, engajada,
trocando mensagens, “batalhando” pela candidatura.
Debitar exclusivamente às redes sociais a
vitória do candidato do PSL é tolice, mas tolice maior é ignorar a força
crescente do mundo digital, que influencia em tudo, e cada vez mais, em nossas
vidas. Na política não é diferente.
As redes, no entanto, não são para amadores
e muito menos para os que chegam de última hora, despejando todos os seus
recursos na tal de reta final da campanha. E talvez aí a dificuldade dos velhos
caciques de política em compreende-las. O mundo digital, apesar do seu formato
online/on time, exige paciência, tempo e muito trabalho para conhecer de fato
um mercado, no caso os eleitores, descobrir seus interesses mais bem guardados,
coletar, catalogar dados e iniciar um “diálogo” produtivo com eles.
Bolsonaro começou com cedo. E colheu
frutos.
As eleições de 2020 estão aí. Vamos ver
quem aprendeu a lição e vai chegar na reta final bem colocado e quem esperou os
minutos finais para se movimentar e vai, com certeza, encarar uma belíssima
derrota nas urnas.
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