Diário de uma quarentena – 03 MINHA PRIMEIRA EXCURSÃO NAS RUAS

Padaria, posto de vacinação contra gripe, banca de revista...
Hoje a tarde, depois de fazermos uma lista de divisão de tarefas domésticas, fiz minha primeira excursão as ruas. Antes decidimos quem lava e quem passa roupas, dias de lavar banheiro, quem cozinha, que lava louça etc., etc e também quem pode, devidamente equipado, sair para comprar alguma coisa urgente.por aí vai. Além dessas prosaicas tarefas decidimos que teremos também momentos de lazer coletivos e horários para exercícios físicos.
Devidamente autorizado lá fui eu, acompanhado por um fiel ajudante, às ruas. Estranhas as ruas. Ônibus (poucos) vazios. praticamente fechado, trânsito com pouquíssimos veículos, a padaria com avisos que vai fechar e só atenderá por telefone para entregas nos próximos dias.
No posto de vacinação, aqui bem perto de casa, as contradições a brasileira. Embora nas campanhas anteriores tenham usado em uma tenda armada no pátio externo, desta vez resolveram fazer em uma sala, na lateral do prédio, ainda que de portas abertas para o pátio. A fila na calçada, crescendo a olhos vistos e poucos, pouquíssimos, respeitando a tal distância de um metro uns dos outros. E ninguém para advertir. Desisti. Vou passar em outro momento.
A padaria estranhamento vazia. Só duas pessoas no balcão, tomando café. Nada de tortas, bolos e outros petiscos. Só o básico, incluindo aí as tais pizzas em pedaços. 
Bancas de revistas fechadas. Na única aberta na redondeza todos de máscara, num movimento contrário as demais: estavam fechados e resolveram abrir. Dos meus cigarros só três maços, pois alguém tinha passado antes e comprado todo o estoque, como aconteceu na padaria. Aliás esse tem sido um comportamento observado em vários locais: o sujeito chega e compra todo o estoque do que encontra. Solidariedade com o próximo, sejam alimentos básicos ou supérfluos, como o cigarrinho, nem pensar. 
Engraçado estarem abertas duas lojas que vendem pneus e rodas de grife. E tinha fregueses. Poucos mais tinha. Um dos meus vizinhos que tem uma revenda de carros usados também abriu. Quem será que sai para comprar um carro nesses tempos? Vai saber.
Aberta também uma loja de artigos para pets. Não sei como será amanhã quando começa a quarentena da pesada decretada pelo Governo Estadual (tudo fechado, com exceção de postos de gasolina, farmácias e supermercados). Quem não de prevenir, comprando sacos e mais sacos de ração vai ter problemas para alimentar os companheiros de estimação.
Bom, de padaria em padaria, de uma banca aqui e outra lá, consegui um estoque razoável do tal Souza Paiol, meu cigarrinho de palha, que racionado, penso eu, dará para enfrentar a quarentena sem quebrar o pau, nervos a flor da pele, com o resto da família, reclusa entre as quatro paredes.
Neste momento tentando falar com o banco, para confirmar a notícia de que as operações de crédito teriam entrado também em quarentena por 60 dias, provavelmente uma Fake News, mas vai que, né? Só 80 minutos por enquanto, ouvindo aquela musiquinha chata do banco Itau, mas persistindo.
Vamos ver.
Fui. Volto a qualquer momento, com essas notícias sem graça. Mas quem disse que quarentena rende uma boa prosa escritos, se você não for, por exemplo, um Gabriel Garcia Márquez? Na verdade a ideia aqui é registrar mesmo esses movimentos meio que sem graça e mais tarde, quem sabe, voltar a eles, numa tentativa de compreender melhor este momento tão estranho e desafiador de nossas vida.
E antes que esqueça, querido banco Itau, vá pra PQP. Em tempos de aprisionamento em casa, esperar 90 minutos no telefone sem ser atendido é foda.

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