DIÁRIOS DE UMA QUARENTENA – 06 – AS AÇÕES DE BOLSONARO TEM UMA LÓGICA.

Calmam todos, principalmente os que acham que o “homi” é louco. Bolsonaro, certo ou errado pauta-se numa lógica exclusivamente da internet, falando – pratica e exclusivamente – para os seus apoiadores nas redes sociais.
Se as ações de contenção da pandemia der certo, ainda assim ele vai faturar em cima, surfando nas ações do Ministério da Saúde e – talvez até – nas medidas adotadas pelo da Economia. Se tudo der errado a culpa será dos “outros”. “Eu bem que avisei, mas não me deram ouvidos”, vai alegar.
Bolsonaro tem uma lógica própria e todas as suas ações, palavras e atos estão voltadas para os seus seguidores (fanáticos e mais ou menos entusiasmados). Ele, neste momento, apesar do Coronavirus, tudo o que deseja é manter essa sua base. Ah, mas e a saúde, a economia? Não importa. Mesmo que a quarentena dê certo e a economia for – como é provável – para o ralo, ele terá a desculpa de ter “avisado”. Vai continuar com boa parte do seus eleitorado disposto a mantê-lo como inquilino do Palácio do Planalto. E a julgar pelos seus movimentos nas redes, um público (seguidores) nada desprezíveis. 
É precipitado dizer agora que Bolsonaro está perdendo espaço nas redes. Neste momento, muita gente que estava – digamos assim – quietas, resolveram expressar os seus sentimentos contrários ao presidente, que de resto não faz por menos. Estamos aqui falando, basicamente, da classe média, ressentida com a sua visão da “gripezinha” e da sua inabilidade total em dialogar, em conviver com algum, que seja, contraditório. E sim, uma boa parte dos que foram com Bolsonaro por conta de estarem fartos do PT, estão recuando. Mas a sua base, mas orgânica, por enquanto continua estável. É só ver os números, nas redes sociais, o campo que mais interessa ao presidente.
Panelaços, orações, palmas e músicas nas varandas são exclusivas da classe média para cima. Por enquanto o andar de baixo não se manifestou. Não é que o pessoal dos andares mais altos não tenha importância, mas uma boa parte deles continua fiel ao “mito”, esbaldando-se inclusive em “explicar” o que ele quis dizer, neste ou naquele pronunciamento ou em seus arroubos contra os pobres coitados dos jornalistas que dão plantão nas portas do palácio.
Espaço para um impeachment, não existe, ainda. Os dois que foram apeados da presidência tinham, na época, baixíssimos índices de popularidade e este não é o caso de Bolsonaro, que continua bem ancorado entre o pessoal que faz parte da sua facção.
Enquanto governadores e prefeitos estão e serão julgados dependendo do êxito das suas atitudes, Bolsonaro, ao menos por enquanto, será julgado basicamente pelo seu discurso, com a vantagem de ter um “colchão” proporcionado pelas ações do Ministério da Saúde, a parte que está “dando certo” no seu governo.
Bolsonaro não prima exatamente pela inteligência, assim como o seu núcleo duro. Mas apostam tudo no que – até agora – tem dado certo. Vale notar, por mais que estejam aumentando o tom e o volume, que nenhum dos setores que lhe fazem oposição, são capazes de travar um debate usando a mesma “linguagem/discurso” do presidente.
Bolsonaro não faz a política tradicional e isso, de uma certa forma, desnorteia os seus opositores, todos acostumados a um “debate mais institucional”. Bolsonaro fala e age como se estivesse num boteco, tomando cerveja com os amigos. E há – ainda pelo menos até agora – um público sensível a essa linguagem. 
O grande teste virá nas próximas eleições, adiadas ou não, quando a saúde certamente será um tema central, junto com a capacidade dos governantes de combaterem os efeitos perversos provocados pela pandemia.
Prefeitos e governadores serão julgados, cada um a seu tempo, pelas medidas adotadas para combater o coronavírus e suas consequências. Bolsonaro, menos pelos seus atos e mais pelo seu discurso, pelas suas narrativas.
A saúde será discutida em termos mais amplos. Cabe ou não ao Estado fornecer um bom sistema de saúde para todos indistintamente? A pandemia vai escancarar a questão, inclusive para os mais abastados, cujos planos de saúde também entraram em curto-circuito, incapazes de prestarem um bom atendimento, suspendendo, na prática, todo o seu sistema de atendimento para se concentrarem no coronavírus.
Resta saber como se comportará, em futuro breve, o distinto público. Qual a parcela que continuará fiel a narrativa de Bolsonaro, voltada para seus adeptos nas redes sociais e qual a que voltará olhos e ouvidos para o número crescente de lideranças, dos vários matizes, em confronto direto com o presidente.
Bolsonaro não é um bom jogador. O seu forte são as caneladas, que distribui a torto e a direito. No momento conseguiu a façanha de unir gregos e troianos, numa frente institucional nunca registrada na política brasileira. 
Ainda é um tanto cedo para se afirmar que Bolsonaro perdeu – ou irá perder brevemente – a sua significativa base de apoio. Infelizmente será a quantidade de mortos pela pandemia e em seguida os feridos pelo desastre econômico que inevitavelmente virá, que vão determinar para que lado a população apontará o seu dedo acusador. Mas que o presidente nunca esteve numa posição tão desconfortável é um fato. E é provável que radicalize cada vez mais as suas posições. Seja como for nada de bom nos aguarda no futuro.

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