Diário de uma quarentena– 05 E SE BOLSONARO ESTIVER CERTO?

“Calmam”, por favor, adeptos e desafetos. O título acima é apenas uma releitura do popular “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come” – ou vice-versa – tanto faz. 
O dilema, o falso dilema, é: cuidamos da saúde ou da economia? 
Estou aqui, como todos os dos andares do meio para cima, instalado com algum conforto nesta tal de quarentena. Passado algum tempo, quando o vírus finalmente contaminar mais da metade da população, e matado uns tantos aqui e ali (milhares, mas...) irei, junto com o pessoal dos andares do meio enfrentar uma bagunça, como dantes nunca vista, na economia. Os do andar de cima, principalmente os das coberturas, estarão, como sempre numa boa. Os dos andares intermediários, mal e porcamente, provavelmente sobreviverão, mesmo que mais pobres.
A pergunta, que não quer calar, agora, já que depois vai ser a casa da mãe Joana, é como estarão, em breve, antes mesmo do final da quarentena, o pessoal do meio para baixo, incluindo aí os dos subsolos?
Bolsonaro, por enquanto, acreditem ou não, tem duas boas chances de sair bem desta: se tudo nesta quarentena der errado poderá culpar os “outros”. Se, altamente improvável, tudo der certo (não há a rigor uma chance de alguém sair vitorioso desta crise) ainda assim poderá capitalizar algum sucesso, alegando que fez a sua parte, via Ministério da Saúde e – talvez quem sabe – o da Economia.
Tenho muito mais a dizer sobre a estratégia do Bolsonaro, mas vamos ficar, por enquanto na quarentena. Um post, mal escrito, colocado aqui por mim, recentemente, feito na base da emoção e perplexidade, me valeu um puxão de orelha de um dileto amigo e passou a impressão de que sou contra a quarentena. Não sou. Mas também não acho que por conta da pandemia podemos matar de fome e colocar na vala comum dos desesperados a maioria absoluta da população brasileira.
Vamos parar de ser cínicos, nós privilegiados da classe média, com nossas geladeiras e dispensas cheias e empregados a postos, achando que a maioria – sim senhores – a maioria – do povo brasileiro pode ficar, sabe-se lá até quando, ordeiramente em “casa”. 
Ah, a ideia é apenas dar um tempo, para minimizar a curva de infestação do vírus, enquanto o Estado se organiza para fazer frente aos milhões de infectados. Ok, faz sentido. Mas, além disso, o que fazer com os desempregados, os sem renda nenhuma, os que vivem de biscates, os “autônomos, etc., etc.?
O que fazer? Não sei. Mas quem foi eleito, está no comando, tem que saber. Afinal, estão lá por livre e espontânea vontade. Batalharam para isso. Façam portanto jus ao prêmio. Reúnam os técnicos, os especialistas, a academia, os burocratas, se virem.
O que não é possível é oferecer o falso dilema: ou a saúde ou a economia. As duas matam e provocam sequelas gravíssimas que só superaremos, com muita ajuda divina, daqui muitos anos e anos. 
Aqui, do alto da minha privilegiada varanda, a menos de cinco minutos de distância, posso ver a tragédia anunciada. As duas padarias fechadas (empregam dezenas e dezenas de pessoas). Uns 10 restaurantes, todos de pequeno porte também. Do pequeno comércio do centrinho quase em frente, permanecem abertos o açougue, com restos de estoque e a farmácia. No último dia da padaria aberta, com apenas duas pessoas tomando café, o que tinha eram funcionários chorosos, sem a menor ideia do que lhes reserva o futuro. 
Um exemplo menor, dirão os apressados de plantão. Sem dúvida. Mas multiplique país afora. Quantos terão seus empregos e negócios de volta? Quantos sobreviverão?
Não tenho nada a ver com o destempero, a maluquice e a falta de caráter do principal mandatário, que deseja apenas se equilibrar no cargo e obter alguma vantagem na crise, de olho na perpetuação do seu mandato. Mas, também não me sinto encorajado a achar que remédio bom é aquele que mata o doente.
Governadores e prefeitos, insisto, estão certos em adotarem medidas de contenção. Mas elas, por si só, não são o remédio para a pandemia e a economia. Queda de braço com Bolsonaro e o Governo Federal não resolvem nada. Estamos dançando na beira do abismo e, por favor, vamos parar de nos mirarmos em exemplos como os da Itália, Espanha, Coréia e afins. Somos milhões de pessoas, a maioria absoluta ali, vizinhos da linha de pobreza. E eles morrerão, aos montes, se não tivermos soluções criativas, baseadas nas especificidades brasileiras. O resto é teatro para aparecer bem na fita dos telejornais e – com sorte – escaparem da revolta popular.
E aí deixo a pergunta inicial: e se o doidivanas mandatário do país, e não vem ao caso as soluções malucas que propõe, tiver alguma razão nos seus questionamentos?

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