O QUE O CHILE PODE NOS ENSINAR HOJE
A pergunta que não pode calar |
Não apenas o Chile, mas também outros
países da América Latina, como o Equador, com manifestações violentas, eleições
à esquerda na Argentina, agitações políticas no Paraguai e no Peru e o descontentamento
com o resultado das últimas eleições na Bolívia, tudo isso e mais um tanto,
como o populismo, emparedado pelo narcotráfico no México. Aparentemente cada
uma dessas crises têm características únicas, mas – e aí está o alerta –
trata-se de uma região com o pior desempenho mundial em termos de produção
econômica, com suas populações
descarregando o ressentimento que sentem, com a desigualdade de renda
enraizada e o alto custo de vida.
“Nada a ver com esquerda ou direita, como
alguns querem fazer crer. Trata-se da constatação de que não há muito para
distribuir, não há muito com o que se trabalhar. A América Latina não está
crescendo”, como deixou bem claro Shannon K. O’Neill, pesquisador sênior de
estudos latino-americanos no Council on
Foreign Relations em Nova York, em
análise para o Valor/Globo.
Nada a ver, portando, com Foro de São
Paulo, ameaças vermelhas, ditaduras de Pinochet, Nicolas Maduro ou qualquer
coisa do gênero. No caso mais especifico do Chile os mais radicais da direita
deveriam voltar os seus olhos para longe das ameaças do “comunismo” e outras
baboseiras, e se debruçarem sobre o que é óbvio: não basta seguir cegamente a
cartilha da austeridade fiscal, abertura comercial, privatizações generalizadas
e todas as demais práticas do receituário do liberalismo econômicos, sem um
olhar para o social. E, principalmente, devem parar, aí inclusa a elite
financeira, de acreditar que o mercado vai resolver todos os problemas.
Do lado da esquerda é preciso repensar
prioridades e projetos, se convencendo que ficar simplesmente “contra tudo isso
que está aí”, também não leva a nada. O Estado provedor, de tudo e mais um
tanto, não se sustenta. Fechar o país aos investimentos que vêm de fora,
acreditar que é possível crescer baseado apenas na venda de commodities muito
menos. O Estado sozinho não pode tudo. O olhar social tem que vir acompanhado
de políticas econômicas e educacionais que levem todas as camadas (ou classes,
se preferirem) a participarem da divisão do bolo, mas de uma forma proativa e
não apenas agarrados as tetas do Estado provedor.
O problemas dos países latino-americanos
estão, entre outros, na incapacidade generalizada de investir em infraestrutura
e em educação moderna, no combate a corrupção, no que têm falhado
fragorosamente, e na fragilidade das suas instituições, que não agem
adequadamente como contrapesos no jogo democrático. Além disso têm que parar
com a relutância em se inserirem nas cadeias produtivas globalizadas, com a
atenção das suas elites voltada exclusivamente para a produção de commodities
que, sequer, conseguem diversificar.
As projeções para o crescimento da América
Latina são desanimadoras, ficando em apenas 2,0%. Os emergentes da Ásia devem
atingir a marca dos 5,9%. Vamos ficar abaixo inclusive de países africanos, que
devem chegar aos 3,2%. No Brasil, pelo menos por enquanto, as expectativas são
relativamente boas, embora seja necessário um esforço titânico para levar
progresso e bem estar para mais de 200 milhões de pessoas e desde, é claro, que
o presidente atual não atrapalhe tudo. No frigir dos ovos só um país parece
escapar, o Panamá, que deve atingir a marca dos 5%. Pena que seja uma das
menores economias da América Latina.
O que o Chile, Argentina, Bolívia e demais
países latino-americanos têm a nos ensinar é simples: o desenvolvimento
econômico precisa caminhar junto com a prosperidade geral e irrestrita, caso
contrário o pavio que vai detonar as explosivas manifestações do andar de baixo
será aceso. E, como já foi demonstrado, não adianta nada colocar as Forças
Armadas nas ruas. A esquerda deve mostrar bom senso e trabalhar para que as
reformas necessárias sejam feitas, cuidando do olhar social.
Seremos capazes? Bolsonaro e adeptos devem
também abrir os olhos. Se daqui a 3 anos for avaliado como aquele que apenas
priorizou o crescimento para o pessoal do andar de cima, sem dar a mínima para
o social, não importa o esperneio dos seus fiéis, a turba que o colocou na
Presidência vai tirá-lo de lá. Sem dó, nem piedade. É bom olhar as lições da
história, inclusive as mais recentes. E o alerta serve para todos, já que explosão
do pessoal do andar de baixo não costuma beneficiar, muito menos poupar, quem
quer que seja.
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