STF: LEGISLATIVO OU DELEGACIA DE POLÍCIA?
Não é de hoje que o Supremo Tribunal Federal deu-se a tarefa de
legislar, ao se intrometer em questões que a rigor não lhe competem, como inova
agora ao agir como delegacia de polícia, apequenando as suas funções e criando
confusões jurídicas sem precedente.
Livro faz sucesso e já tem versão pirata na internet |
Depois que o ex-procurador-geral da República veio a público contar
sobre a sua “intenção” de matar o ministro Gilmar Mendes, como reagiu a Corte?
O ministro Alexandre de Moraes cassou o porte de armas de Rodrigo Janot e
determinou que ele não chegue a menos de 200 metros de qualquer dos integrantes
do STF, impedindo, ainda, seu acesso a qualquer das dependências do Tribunal.
Até aí mais do que razoável, mas começa a extrapolar quando ordena também,
busca e apreensão nos endereços residencial e comercial de Janot, com apreensão
de armas, telefones celulares e computadores.
Alexandre, ministro do Supremo, procurador e delegado. |
O problema começa quando o ministro, baseado numa tal de
investigação relacionada com “fakes news”
e ameaças feitas na internet contra ministros do Supremo, dá inicio a uma
persecução penal baseado numa mera declaração de que um dia o
ex-procurador-geral se disse disposto a cometer um homicídio. Ainda que não
sendo jurista, me parece óbvio que uma intenção não configura crime em si, já
que de fato nenhuma ação concreta aconteceu.
Ao se admitir a persecução penal baseada apenas na intenção, temos o
Estado se intrometendo ou pior, tomando providências típicas de polícia sobre
as consciências individuais. Uma coisa é garantir a segurança de Gilmar Mendes
e demais membros do STF, outra é – julgar alguém – apenas pela admissão de uma
intenção criminosa, que não foi concretizada, por única e exclusiva decisão
desse provável-futuro criminoso. Não é preciso ser jurista para entender o
perigo desse tipo de atitude se ampliado para qualquer cidadão, que
eventualmente tenha admitido (publicamente) a intenção apenas – e no passado –
de cometer um crime, não concretizado frise-se.
Mais grave ainda é a intenção de utilizar a – de resto controvertida
– investigação sobre “fake news” e ameaças online aos ministros, para este caso. Com isso o Supremo, passa a
agir numa simbiose estranha atuando como Ministério Público e Delegacia de
Polícia. O caso revela claramente que essa investigação (sobre “fake news” e
“ameaças” via internet, que nem deveria
existir), poderá ser usada para abranger qualquer conduta que os ministros
queiram nela incluir, mesmo que sem relação alguma com a divulgação de notícias
falsas, como é o caso.
Mas as trapalhadas do Supremo não param por aí. Ao ir além do
julgamento de um simples habeas corpus impetrado na Corte, relativo a ordem
sobre as alegações finais de réus delatores e delatados, STF se enfiou em mais
uma enrascada.
O que estamos julgando aqui, afinal? A pergunta, feita pelo ministro
Marco Aurélio, fez todo o sentido, já que ao extrapolar o julgamento do
habeas corpus, os membros do STF partiram para inovar a legislação, pois nela
não existe nada que diferencie réus, sejam eles delatores ou delatados. E mais,
boa parte dos ministros parece não atentar para as consequências das suas
decisões, que podem resultar numa bagunça jurídica, ao anular sentenças de
dezenas e mais dezenas de julgamentos, que incluem políticos, mas também outros
relacionados ao tráfico de drogas, milícias etc.
Gilmar: fetiche sexual entre procuradores e juízes. |
Ressalte-se ainda que a última sessão do STF sobre este assunto,
serviu de palco para que o ministro Gilmar Mendes, utilizasse a maior parte do
seu tempo para proferir impropérios contra o atual ministro da Justiça, Sérgio
Moro, e procuradores da Lava Jato. Depois de compara-los a torturadores, Gilmar
chega a exageros inconcebíveis ao insinuar um “fetiche sexual”, que existiria
entre procuradores e juízes envolvidos na operação.
Gilmar Mendes, que usa o STF para sua vingança pessoal, acusou a equipe da
Lava Jato de transformar a prisão
preventiva em um “instrumento de tortura” para obter confissões dos presos: “Quem
defende a tortura não pode fazer parte desta Corte”, asseverou, ainda, referindo-se
à possibilidade de Sérgio Moro vir um dia a ser indicado por Bolsonaro para uma vaga
no Tribunal.
Ao que tudo indica, o membros da Suprema Corte parecem não estar
conscientes, ou pouco se importam, dos prejuízos que estão impondo não só a
Justiça, mas a toda a sociedade brasileira, no afã de legislar, de se comportarem
como agentes do Ministério Público ou delegados de polícia.
Reações contrárias é que não faltam. O julgamento, do tal
habeas corpus que ainda não terminou, vai exigir um número tão significativo de
“gambiarras” para se tornar palatável, que sequer existe algum consenso entre
os ministros. Com isso o Supremo vai se transformando num tribunal que deixa de
ser respeitável pela suas decisões, para se transformar em fator de insegurança jurídica e defensor
da impunidade, principalmente nos casos de corrupção, nomeadamente aqueles que
envolvem os poderosos de plantão.
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