SERIAM OS GRUPOS DE RENOVAÇÃO POLÍTICA INIMIGOS DOS PARTIDOS?


Mais de 1,4 mil pessoas nos cursos
Criados recentemente, grupos como o RenovaBR, Agora!, Acredito, Livres, MBL e Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), entre outros, sob a justificativa da urgência de renovar a política brasileira, ganharam rapidamente uma influência no Congresso, elegendo uma quantidade significativa de deputados federais e senadores, sem contar com os estaduais e alguns governadores e começaram a incomodar os partidos tradicionais, basicamente os conhecidos como Centrão, alguns deles, inclusive, articulando medidas destinadas a limitar as suas ações e principalmente cortar as suas fontes de recursos.

A ascensão desses grupos aconteceu aproveitando-se do desgaste da classe política e das siglas partidárias, que agora reagem planejando aprovar uma lei que limite as doações, que já proporcionaram a essas agremiações um orçamento superior ao de partidos tradicionais, combatendo ainda a infidelidade partidária.

Tábata Amaral, rebelde.
Felipe Rigoni, recorrendo a Justiça.
Tabata Amaral (PDT) e Felipe Rigoni (PSB) são os mais conhecidos “rebeldes”, que costumam contrariar as orientações dos seus partidos e que buscam na Justiça o direito de se desfiliar sem perder o mandato.

Talvez o orçamento declarado, cerca de 29,6 milhões de reais,  dessas organizações seja um dos maiores incômodos provocados nos partidos, já que supera o valor dos repasses anuais do Fundo Partidário a partidos como o PSOL, Novo, Podemos e SD, entre outros. Mas incomoda também, a independência com que se movem os legisladores oriundos dessas organizações, nem sempre respeitando as orientações dos partidos, pelos quais se elegeram.

Em contraste com os partidos tradicionais esses grupos atraem uma quantidade expressiva de pessoas interessadas nos seus cursos de capacitação de quadros políticos e de formação de líderes. Só o do RenovaBR, contabilizou nada menos que 1,4 mil matriculados em todas as regiões do País, números que certamente causam inveja e incomodo ao establishment.

Pinato: "por que os partidos não podem?"
As questões relacionadas aos recursos financeiros, são as que mais incomodam as lideranças políticas tradicionais. Em ofício ao Tribunal Superior Eleitoral o deputado Fausto Pinato (PP/SP) pergunta se esses grupos podem receber doações privadas e formar candidatos, por que os partidos não podem?

Paulinho: "agem como partidos paralelos"
O presidente do Solidariedade, o deputado Paulinho da Força, fala em cortina de fumaça para burlar a lei eleitoral e incentivar a infidelidade partidária, com as organizações agindo como “partidos paralelos”, que “pregam a destruição” dos mesmos. O parlamentar quer limitar as doações, a no máximo dez salários mínimos por ano.

Independentemente das questões financeiras e dos incômodos que provocam nos partidos, a atuação desses grupos está de fato influenciando a política brasileira. É verdade, também, que suas inclinações políticas, com exceção de uns poucos, não são claras. Não se sabe ao certo o que pretendem ao fim e ao cabo. Mas, ao mesmo tempo, nada indica que estejam burlando as leis, o que tenham como objetivo a ruína dos partidos tradicionais.

Apesar disso, mesmo na "academia" existem restrições a atuação desses grupos, como os expressos, por exemplo, pelo cientista político Jairo Nicolau, pesquisador do FGV CPDOC. Ele atribui, corretamente, a ascensão desses grupo à crise enfrentada pelos partidos políticos tradicionais que estão se transformando, segundo ele, em instituições paraestatais, graças ao volume de dinheiro que recebem dos cofres públicos, terminando por serem controlados pelo Estado, sem que a renovação interna não aconteça. Nicolau, acredita que o caminho não está nas organizações de renovação política, que estariam usando os partidos, como uma espécie de barriga de aluguel apenas para se elegerem. O ideal, na opinião do cientista político, seria que as pessoas ligadas a esses grupo entrassem nos partidos para renová-los ou, pelo menos, adotassem uma legenda, para influencia-la por dentro.

No mundo inteiro organizações semelhantes existem. E também incomodam os partidos tradicionais. Em alguns casos várias delas terminaram por se transformarem em partidos clássicos, ou adotando legendas, como sugere Jairo Nicolau.  Mas será de fato legítimo impedir que pessoas se reúnam para influenciar a política, eleger personagens, defender ideias e projetos, ainda que fora dos partidos tradicionais? Não valeria, em vez de reagirem, restritos a mesquinha questão financeira, que os partidos refletissem sobre os motivos que levam milhares de pessoas a optarem por esses grupos, em detrimento das organizações partidárias tradicionais?

Confesso que a maioria desses grupos para mim é um mistério. Mas não acho que essa investida dos partidos tradicionais seja algo legítimo, útil, necessário. Não importa que por trás dessas organizações existam interesses pouco confessáveis. Não importa. É direito da sociedade se organizar como achar melhor. Cabe aos partidos oferecem a todos que se interessam pela renovação da política, acolher e dar condições para que as pessoas participem do processo, de forma democrática e aberta, sem estarem sob o jugo das direções partidárias, tornando assim inócuos e desnecessárias a participação em grupos semelhantes a esses que estão sendo contestados.

Não creio que sejam uma ameaça aos partidos. Só se eles continuarem isolados e criando condições para serem extintos por inércia e falta de participação popular, defendo ideias claras e projetos de interesse da população.

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